Adriana Regina Oliveira Coelho e Marize Helena de Campos

 PLURAL E MULTIFACETADA: REFLEXÕES SOBRE A SALA DE AULA DE HISTÓRIA

 

Adriana Regina Oliveira Coelho

Marize Helena de Campos

 

Esta comunicação tem por mote pensar a sala de aula de história sob um prisma plural e multifacetado, no que diz respeito ao ensinar e aprender, destacando elementos pontuais no âmbito da didática da história. Os questionamentos que o norteiam sugerem reflexões, no sentido de escaparmos do jogo fictício de aulas que nada resultam enquanto conhecimento e consciência histórica. Para tanto, aborda potencialidades e limites do ensino e aprendizado de história, e molduras metodológicas muitas vezes contrapostas em campos distintos, especialmente os livros didáticos e as oficinas históricas. Em outras palavras, discute o ensino e aprendizado de História e a tarefa cotidiana de provocar e desenvolver o senso crítico dos alunos estimulando-os a perceberem a História, acima de tudo, como uma forma de leitura do mundo.

 

Um começo. Algumas palavras. 

 

Resultado de um processo iniciado em 1929, com a fundação da Escola dos Annales, temas, até então considerados secundários para a compreensão das sociedades e suas dinâmicas, como infância, morte, loucura, clima, odores, sujeira e limpeza, gestos, corpo, feminilidade,  leitura, família,  mulheres, entre outros, passaram a fazer parte das pesquisas, ampliando o leque de investigações e propiciando, segundo Medeiros (2017), um novo entendimento sobre os momentos históricos:

 

O rompimento com a velha história positiva de influência alemã;

A problematização dos fatos históricos, com o conceito de história problema;

O intercâmbio intelectual, proporcionado por uma interdisciplinaridade, entre as áreas de conhecimento;

O conceito de durações múltiplas, sobretudo de longa duração, para constituição da estrutura que será ampliado na geração seguinte por Fernand Braudel[...];

A ampliação das fontes históricas e consequentemente o desbravamento da floresta do não factual. Neste sentido tudo passa a ser objeto de estudo do historiador;

A constituição de séries para a defesa do caráter estrutural da história, através dos ciclos históricos que se repetem, para uma análise mais global;

O conceito de história total ou global, o qual foi veemente criticado por querer englobar tudo no campo histórico e fazer análises globais;

E por fim, o método retrospectivo, ou regressivo o qual refere-se as[sic] representações intelectuais do tempo histórico.

 

No entanto, ao observarmos como, e se tais temas são trabalhados na prática do ensino da história, constatamos que, nos anos que compõe a estrutura da escola básica, ainda são perceptíveis muitas permanências fincadas em preceitos da Escola Metódica, como aponta Bittencourt (2004).

Disso decorrem, invariavelmente, aulas marcadas pela desmotivação ou, o seu oposto, a agitação. Via de regra, o resultado de tal modelo são turmas rotuladas como as de piores comportamentos e, consequentemente, dos piores índices, instigando a necessidade de caminhos que sigam em sentido oposto a essa sala de aula, que afasta, caminhos que agreguem, balizados em metodologias que mesclem aulas expositivas e dialogadas, exibição de filmes, que proponham projetos temáticos, envolvendo as famílias e a comunidade dos alunos.

 

No que se refere à metodologia de aulas expositivas dialogadas, o intuito de “trazer” os alunos para a aula, não como meros receptores de conteúdos, mas como construtores do processo ensino-aprendizagem, tem no seu “epicentro” a intenção de estimular ao máximo sua participação e assim o seu desenvolvimento intelectual e pessoal. Tal envolvimento permite não só apreenderem o conteúdo, mas principalmente desenvolverem habilidades cognitivas em amplo aspecto.

 

O protagonista deixa de ser o quadro, o livro e o ensino “faz-de-conta” e passa a ser o aluno, apoiado, motivado, orientado e avaliado pelo professor, que passa a assumir o papel de mediador, aquele que não “tira dúvidas”, mas “faz dúvidas”, aquele que leva seu aluno a reconstruir conhecimento com mão própria, investindo nisso todo o cuidado possível e imaginável (GAZZOLA, 2014).

 

Ao possibilitar o diálogo com as turmas, o professor conquistará a atenção e envolvimento dos alunos aos conteúdos em um relacionamento saudável, cooperativo e afetivo, dissolvendo a tão nociva pedagogia do medo.

 

É a consolidação do que Freire (1983) conceitua como processo formativo.

 

Por uma sala de aula de história com e além do livro didático

 

O panorama histórico do ensino de História no Brasil nos permite afirmar que, por muito tempo, seu fundamento esteve pautado no mecanicismo, em que o ato de ensinar era praticado com a transmissão de conhecimento e memorização dos conteúdos, especialmente de datas e personalidades políticas, como assinalam as autoras Azevedo e Stamatto (2010, p. 712-713).

 

No sentido oposto a essa prática do ensino e aprendizagem de História, adotei a aula oficina enquanto ferramenta de ensino ativo por seu potencial de provocar o protagonismo estudantil e favorecer o desenvolvimento da consciência histórica nos estudantes da Educação Básica de Ensino.

 

Esse despertar se deu em 2019, quando lecionava a disciplina de História nas turmas do Ensino Fundamental II, em uma escola da rede privada de ensino, pude vivenciar uma das mais impactantes e angustiantes experiências que marcariam o início da minha trajetória docente. A realidade das aulas de História, bem como das demais disciplinas nesse contexto escolar, era desestimuladora e ao mesmo tempo um grande desafio para os docentes. Por quê? A maioria dos estudantes eram egressos de outras escolas da rede privada de ensino que, pelos mais variados motivos, migravam de uma escola para outra e traziam em suas mochilas, além dos respectivos materiais didáticos, desânimo e baixo desempenho escolar.

 

Frente a tal quadro, passei a repensar os métodos utilizados nas minhas aulas, buscando um caminho que pudesse mudar aquele cenário. Foi quando utilizei, pela primeira vez, o modelo de Aula Oficina, ou seja, abordando o conteúdo de forma investigativa, por meio de pesquisa, utilização de fontes históricas e temáticas.

 

Para a minha surpresa e satisfação, a escolha metodológica daria certo. Então, pude observar a apatia e desinteresse pelo conhecimento histórico, tão visível nos olhares e posturas da maioria daqueles alunos, dar lugar à curiosidade e à interação com a aula, em outras palavras aquilo que Paulo Freire (1996) já nos despertava ao mostrar que o ato de ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível.

 

Assim, nós professores de História somos chamados a fomentar a consciência histórica dos estudantes, por meio do ensino e da pesquisa, lançando mão de métodos engajadores, isto é, de abordagens e estratégias que melhor alcancem os educandos.

 

Como podemos esperar que nossos educandos desenvolvam consciência histórica, se estes não possuírem, primeiramente, interesse em aprender? Se estiverem desestimulados no processo ensino-aprendizagem? Se estiverem no papel de expectadores do seu processo educacional?

 

Tomando Jean Piaget (2005), como uma das referências do pensamento educacional, campo do qual nossa interlocução não pretende fugir, antes o contrário, tem-se sob o seu olhar o entendimento do interesse enquanto prolongamento das necessidades, ou da interação que a criança estabelece com o mundo. Sob seu olhar, um objeto, assunto, tema ganham estatuto de “interessante” à medida que correspondem a uma necessidade.

 

Ou seja, aprendemos quando construímos vínculos, isto é, quando aquilo que se aprende faz sentido.

 

Notadamente, falar em consciência histórica para os nossos estudantes também só fará sentido se estes estiverem conscientes e interessados pelo papel da educação na sua vida prática.

 

Como Simone Sponholz (2003) advoga, a educação acontece quando as informações e conhecimento fazem sentido, tanto para quem as “transmite” quanto para quem as “recebe”, ressaltando, a necessidade de interação entre professor e aluno, no dia a dia da sala de aula. (SPONHOLZ, 2003, p. 205-206)

 

Desse modo, quando falamos na promoção da consciência histórica dos estudantes da educação básica, temos como objetivo principal a superação da ideia que atribui ao conhecimento histórico somente a memorização de datas e eventos, realizando pouca ou nenhuma conexão com a própria realidade dos estudantes, tal como ocorria na educação tradicionalista.

 

Cabe ressaltar que, a disciplina Didática da História: trajetória, desafios e perspectivas, ofertada pelo curso de pós-graduação, o ProfHistória - UFMA, ministrada pelo Prof. Dr. Washington Tourinho Jr. trouxe, e provocou, valiosas discussões relativas ao livro didático de História, em perspectivas diversas como: o livro didático enquanto fonte de pesquisa; o livro didático e o seu aparato formativo e de elaboração; o discurso didático, entre outras.

 

Na unidade da disciplina intitulada “Ensino, Didática e Aprendizagem Histórica”, uma importante discussão teórica considerou o artigo da historiadora Maria Auxiliadora Schmidt (2006), Estado e construção do código disciplinar da Didática da História. Ao tratar do aspecto da construção do “código disciplinar" da Didática da História, indica como os manuais foram instrumentalizados como importantes elementos na construção das disciplinas escolares, em uma discussão que aponta o livro didático como produto social, com significativa influência nos modos de educar da sociedade que o produz.

 

Ainda no rol das contribuições que a disciplina trouxe, assinalo a sensibilização suscitada ao meu olhar docente sobre a realidade que atuo, levando em consideração o papel do livro didático, sua complexidade dentro da cultura escolar, ampliando, assim, as possibilidades de uso desse recurso para além das recomendações didáticas e pedagógicas escolares, visualizando-o como um objeto de pesquisa histórica.

 

Em sua análise sobre a chamada “idade da informação”, o historiador Robert Darnton (2011) apontava que, ainda que o futuro fosse digital, pesquisas feitas no ramo da História do Livro demonstravam que novos modos de comunicação não substituem os velhos, pelo menos no curto prazo.

 

O mesmo parece se aplicar à cultura escolar, no que tange a utilização do livro didático e seu caráter central no processo ensino-aprendizagem. Nesse sentido, compartilhamos do pensamento do historiador francês e ampliamos os nossos questionamentos sobre qual tem sido o papel do livro didático no âmbito do ensino e da pesquisa de História? E por que esse recurso impresso se mantém como o principal mecanismo para as aulas escolares, mesmo em tempos tecnológicos?

 

Longe de pretendermos uma resposta pronta e acabada, a qual certamente incorreria em reducionismo, entendemos que, dentre as possibilidades de se explicar o destaque do livro impresso em relação aos recursos digitais, estão as questões econômicas de acesso a bens culturais, tanto pelas instituições de ensino – sobretudo as escolas públicas – quanto pelos próprios estudantes, isto é, as dificuldades de acesso a equipamentos eletrônicos e internet para o acompanhamento e desenvolvimento das atividades escolares.

 

Em interlocução com a historiadora Circe Bittencourt (2006) consideramos importante suas observações sobre os materiais didáticos como instrumentos de trabalho do professor e do aluno, suportes fundamentais na mediação entre o ensino e a aprendizagem realçando que os materiais didáticos são instrumentos de controle do ensino por parte dos diversos agentes do poder e, assim sendo, a sua escolha é uma questão política, que exige dos gestores escolares e dos professores o seu comprometimento com a formação do aluno.

 

Nessa perspectiva, o processo de escolha do livro didático passa pelas concepções de conhecimento, no nosso caso, do conhecimento histórico. Assim, a relação entre o ensino de história e o livro didático pressupõe clareza de que, enquanto disciplina escolar, a História tem demandas próprias, o que torna pertinente análises sobre como tais demandas são contempladas pelos livros didáticos.

 

De modo geral, entendemos como objetivo do ensino de História a construção de capacidades cognitivas capazes de uma leitura de mundo crítica e reflexiva. Para tanto, é necessário trazer à tona o comprometimento docente, mas, como os professores de História podem alcançar tal objetivo a partir do livro didático?

 

Sobre o assunto, Circe Bittencourt (2004) destaca que o livro didático é um importante veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura. Por essa razão, faz-se necessário uma atenção mais detida sobre esse recurso, pois, ainda que, como instrumento único, não seja capaz de suprir todas as necessidades presentes no campo da educação, não podemos ignorar o significado que o seu uso atribui ao processo ensino-aprendizagem, ao passo que, se negligenciarmos o conteúdo desse recurso, o ensino passa a ser um instrumento deficiente, fragilizado com potencial para comprometer a formação de sujeitos críticos.

 

Com base nessa percepção, consideremos as inúmeras imagens presentes nos livros didáticos de história.

 

É inegável que as imagens constituem um poderoso e interessante instrumento no ensino de História, mas cabe ao professor uma especial atenção em evitar o seu uso meramente ilustrativo e deslocado de um diálogo problematizador. Nesse caso, estamos falando das possibilidades em se utilizar as imagens como pontes de indagações, reflexões e problematizações em sintonia com os conteúdos e métodos para atender às exigências da didática da história.

 

Por outro lado, o que se pode esperar do livro didático como suporte para pesquisa acadêmica? Há entre alguns profissionais da educação uma certa segurança de atribuir ao livro didático mais funções do que a sua real finalidade. Ou seja, do planejamento de curso aos conteúdos que serão ministrados, das avaliações aos métodos, servem-se do livro didático com bastante naturalidade. Mas, onde estaria, portanto, o perigo dessa postura?

 

Na prática, essa postura tem implicações na qualidade do processo ensino-aprendizagem. E, no caso específico das aulas de história, cabe indagar sobre as concepções de história que o livro traz e se o professor coaduna com tais discursos.

 

A observância dos professores sobre os conteúdos, conceitos e ideias presentes nos livros didáticos é decisiva, haja visto que, a forma como a História é contada nos livros implicará na forma como seus estudantes acessarão o passado por meio desta ferramenta, mas, se ao contrário, o professor se esquiva da problematização, consequentemente, o ensino de história será deveras comprometido.

 

E as ponderações não se encerram aí, já que os componentes presentes ao longo de sua formação dirão muito sobre como lidarão com as questões relativas ao uso do livro didático. Em que dimensão seu percurso formativo lhe fornecerá elementos necessários para escolher determinado livro didático e nele perceber e problematizar lacunas e silêncios?

 

Na tentativa de um posicionamento que vá além do livro didático e da falta de um sentido entre o que é ensinado e a vida prática dos estudantes, nossa opção de proposta didática encontra resposta na oficina histórica, que antes de tudo é um método, ou, um modo de trabalhar organizado pela Professora Isabel Barca (2013).

 

Isabel Barca (2004) afirma ainda que se quisermos superar o tradicional e ineficaz modelo de “aula-conferência”, no qual o professor é o detentor do verdadeiro conhecimento e os alunos receptáculos vazios, será necessário imprimir um trabalho em sala que estabeleça ligações que façam sentido aos alunos.

 

Desse modo, entendemos por oficina histórica um referencial de aprendizagem construtivista, em que o estudante é encorajado a se deslocar do espaço de espectador (que recebe as informações elaboradas pelo professor) para ocupar o lugar de sujeito ativo no processo de aprendizagem, momento que serão reconhecido os saberes prévios dos estudantes, para serem trabalhados os temas gerados para a explicitação e problematização do conteúdo histórico.

 

Este nível de pensamento poderá ser mais elaborado que aquele assentado em frases estereotipadas e desprovidas de sentido, ou seja, por intermédio da oficina histórica, os alunos são levados a superar ideias simplistas que encarceram o conhecimento histórico nas grades da memorização de datas e eventos, com pouca ou nenhuma conexão com a sua realidade.

 

Que história é essa?

 

Outro ponto de intersecção com o que foi dito até aqui refere-se ao fato de que, muitos estudantes da educação básica, não raras vezes, questionam sobre os propósitos da disciplina de História e tendem a associar o ensino dessa área do conhecimento à memorização de datas, eventos e nomes de personalidades políticas das Histórias local, nacional e/ou mundial.

 

Nesse sentido, em seu cotidiano escolar, o professor de História é constantemente acompanhado por indagações como: o que fazer em sala de aula com estudantes desanimados, que ocupam o papel de coadjuvantes do próprio conhecimento, e sem interesse pelo saber histórico? Como adaptar as aulas de História no sentido de que elas possam fomentar o interesse desses sujeitos em participarem da construção da sua aprendizagem de forma recíproca e desdobrar em consciência histórica?

 

Embora, nada do que venha sendo apontado até aqui seja novo nos campos das pesquisas sobre o Ensino de História e da Educação, julgamos tratar-se de um problema não superado e que, por isso mesmo, continua a demandar profundas reflexões e consistentes ações.

 

Em conformidade com Jörn Rüsen (2007), entendemos que o conhecimento histórico, produzido em sala de aula, não pode ser dissociado das necessidades da vida prática do educando.

 

Por essa razão, é preciso também pensar no papel do professor de História, uma vez que, não se faz possível desejar o “descongelamento” do passado, pelos estudantes, se nós professores não nos descongelamos, primeiramente. Como isso é possível? Repensando nossa prática, nosso modo de construir as aulas de História e as relações estabelecidas com os estudantes.

 

Entendemos que a educação acontece quando as informações fazem sentido, tanto para os professores quanto para os estudantes. Em outras palavras, estamos nos referindo à necessidade de interação dos agentes da educação, na construção de um processo dinâmico que requer um professor agente e um educando participativo. 

 

Observar como o professor elabora suas aulas, como se dirige aos alunos e a forma como estes reagem, mostra-se relevante na medida em que se busca conhecer o modo como os discentes organizam, sistematizam o saber histórico de modo a oportunizar uma consciência histórica.

 

A ausência de reflexões sobre as práticas didáticas de História, sobretudo dos métodos aplicados nas suas aulas, pode ser um fator a barrar o aprendizado dos estudantes. Por esse motivo, a opção por metodologias ativas requer do professor a compreensão dos fatores que o motivaram a realizar tal escolha e a consciência de como instrumentalizá-la, ou seja, o exercício da reflexão crítica sobre a prática, apontada por Paulo Freire (1996).

 

Do todo exposto, podemos perceber que, quando o estudante é convidado, e ou, estimulado a questionar e buscar respostas para situações e vivências do passado à luz da sua própria experiência criar-se-á uma dinâmica de envolvimento e reconhecimento capaz de aguçar a compreensão histórica e a construção de um pensar científico, crítico, criativo e autônomo do estudante.

Considerações finais

 

“Para que servem as humanidades?”

 

A pergunta feita pela Professora Leyla Perrone-Moisés em um dos seus mais emblemáticos textos, e a resposta que a ela se seguiu servem para traduzir o elemento central que move e justifica o capítulo aqui apresentado: “as humanidades servem para pensar a finalidade e a qualidade da existência humana, para além do simples alongamento de sua duração ou do bem-estar baseado no consumo” (PERRONE-MOISÉS, 2002, p.5).

 

Ao pensar o ensino e aprendizado de História, o que se percebe em suas molduras metodológicas é um nítido distanciamento daquilo que, em si, são suas finalidades últimas: o sentido e a consciência histórica.

 

Ressalte-se que fazer sentido é problematizar. Não por outro motivo, um dos mais recorrentes argumentos de alunos do Ensino Fundamental e Médio é que “estudar História é chato e sem propósito”.

 

Tal rotura parece derivar, em larga medida, de um ensino pautado em conteúdos repassados com a imperativa preocupação de aprová-los para o ano seguinte, resultando em uma aprendizagem pouco, ou nada, significativa, a qual rapidamente torna-se esquecida e sem nenhuma relação com sua vida e visão de mundo.

Aulas frias, compartimentadas e desprovidas de sentido, voltadas para a aquisição cumulativa de informações estruturadas em fato, datas, causas e consequências.

 

Ou, como há muito nos alerta a poesia concreta de Roger Waters, em Another brick in the wall (1979), ao tecer uma contundente e ácida crítica a um sistema de ensino que, ao contrário de estimular os estudantes a mergulharem em questionamentos mais amplos, antes os castra e reprime intelectual e cognitivamente:

 

We don't need no education. We dont need no thought control. No dark sarcasm in the classroom. Teachers leave them kids alone. Hey! Teachers! Leave them kids alone! All in all it's just another brick in the wall. All in all you're just another brick in the wall.

 

Pensemos sobre.

 

Referências biográficas

 

Marize Helena de Campos. Professora Associada do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão - UFMA e do Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória - UFMA) Área de concentração: Ensino de História - Linha de pesquisa: Saberes Históricos em Diferentes Espaços de Memória. Investigadora Visitante no Centro de Humanidades (CHAM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores. Desenvolve atualmente o Projeto de Pesquisa “Mulheres no santo ofício: elementos para a compreensão do trabalho feminino nos séculos XVI e XVII em Lisboa segundo a documentação inquisitorial”. Suas áreas de atuação versam especialmente sobre História das Mulheres, História da Inquisição e Ensino de História.

 

Adriana Regina Oliveira Coelho. Professora de História da Rede Privada de Ensino. Mestranda em Ensino de História pelo PROFHISTÓRIA- Universidade Federal do Maranhão-UFMA Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa em Metodologias de Ensino e Aprendizagem de História (GEPMEAH).

 

Referências bibliográficas

 

AZEVEDO, Crislane Barbosa de; STAMATTO, Maria Inês Sucupira. Historiografia, processo ensino-aprendizagem e ensino de história. Revista Metáfora educacional, n. 9., dez./2010. p.70-89.

BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In: Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p. 131-144.

BARCA, Isabel. Ideias chave para a educação histórica: uma busca de (inter) identidades. História Revista, Goiânia, v. 17, n. 1, p. 37-51, jan./jun. 2012.

BARCA, Isabel. Prática Pedagógica. Isabel Barca fala sobre o ensino de História. Revista Nova Escola. Ed. 260, março, 2013.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Livros didáticos entre textos e imagens. In: Circe Maria Fernandes Bittencourt (org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004, p. 69-90.

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Materiais didáticos: concepções, produções, usos. Mimeo, 2006.

DARNTON, Robert. Cinco mitos sobre a “Era da Informação”. The Chronicle of Higher Education. Tradução de Marcela Franco Fossey Vunesp/FEsTA, UNICAMP, 2011.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura)

GAZZOLA, Janaíne Souza; ARBOIT, Anilce Angela e PACHECO, Luci Mary Duso. A RELAÇÃO PROFESSOR X ALUNO: uma possível ressignificação através da metodologia docente. ANAIS VI FIPED, 30 de julho a 01 de agosto de 2014 – Santa Maria/RS – Brasil Associação Internacional de Pesquisa na Graduação em Pedagogia (AINPGP).

MEDEIROS, Fabrícia Evellyn Araújo. As novas tendências historiográficas e suas “ressonâncias” na produção do livro didático de História: análise de algumas coleções do Ensino Fundamental e médio. Trabalho de Conclusão do Curso (Graduação em História) – Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Educação, 2017.

PERRONE-MOISÉS, Leyla. Para que servem as Humanidades? Jornal Folha de São Paulo. Caderno Mais! 30 jun. 2002.

PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 24a ed. 2005, p. 37.

RÜSEN, Jörn. História Viva: teoria da história: formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: UnB, 2007.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Estado e construção do código disciplinar da Didática da História. Perspectiva Florianópolis, v.  24, n.  2, p. 709-729, jul./dez.  2006.

SPONHOLZ, Simone. “O professor Mediador”. Revista de Ciências Jurídicas e Sociais da UNIPAR, Toledo - Paraná, v. 6, n.2, p. 205-220, 2003.

 

16 comentários:

  1. Marcos Vinicius dos Santos Costa12 de setembro de 2022 às 18:12

    Primeiramente gostaria de parabenizar as autoras pelo belíssimo texto, o titulo da pesquisa é chamativo e nos coloca em posição de reflexão sobre nossas praticas pedagógicas, como estão sendo nossas aulas de história, será que nós como professores estamos conseguindo trabalhar esse desprendimento com a história tradicional ou é apenas uma utopia bonita de ser ver no papel e quando parte para a pratica e totalmente deferente. É interessante ressaltar também quando as autoras colocam que o professor é um mediador de conhecimento e que o mesmo precisa fomentar em seus alunos o interesse pela pesquisa e pelo ensino outra coisa a ser observada e o relato apresentado da turma que tinha grandes dificuldades e que era desestimuladora, hoje como professor eu e outros colegas passamos pela mesma dificuldade, e após a leitura do texto surgiu uma luz, que essas dificuldades que hoje encontramos esteja relacionada com o nossa metodologia e agora é a hora crucial de estamos mudando nossas praticas. Enfim, parabenizo novamente pelo texto e obrigado por acender uma luz no fim do túnel

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    1. Caro Marcos Vinícius, muito obrigada pela sua intervenção. Ficamos felizes, por, de alguma forma, as nossas reflexões também te provocarem. A ideia é uma contínua autoanálise que conjugue nós, enquanto Professor@s, @s estudantes e o fluxo de aprender e ensinar história. Vc tem toda razão quando questiona “será que nós como professores estamos conseguindo trabalhar esse desprendimento com a história tradicional ou é apenas uma utopia bonita de ser ver no papel e quando parte para a prática e totalmente diferente”, pois só assim dia a dia, aula a aula conseguiremos alcançar o máximo das pessoas que compõe a nossa sala de aula. Um ponto importante nisso tudo é que, ao fazermos esse exercício diário de observar a nós própri@s percebemos a importância da mediação, e não da imposição e, ou, reprodução. Nesse sentido, a metodologia que “aplicamos” é fundamental para agregar ou dissipar. Sugerimos que você acesse o banco de dissertações do Mestrado ProfHistória, pois há um número incrível de trabalhos muito concretos e possíveis de serem desenvolvidos em sala, já que trata de Professores que estão na lida diária do que chamamos “chão da escola”.

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    2. (& Adriana Coelho) Marcos Vinícius, nós agradecemos a sua participação. E é bom saber que o título do trabalho cumpriu com o seu propósito, pois a escolha por este título previa uma provocação, isto é, gerar no leitor(a) interrogações acerca da sua prática docente. E, a partir disso, poder debater questões próprias da sala de aula de História. Dito isto, penso que devemos entender o desprendimento do tradicionalismo como algo com propósito, visando não cair numa utopia acerca do uso dos métodos ditos ativos, por exemplo. Por que? Porque por meio de uma clara ideia do que eu enquanto professor/professora de História entendo o que é a disciplina, seus propósitos, e sentidos no processo educacional, aí sim, ficará claro os motivos pelos quais pensaremos no desprendimento aos métodos tradicionais. Do contrário, se nós professores/proefessoras apenas vislumbramos uma prática inovadora, as vezes, muito mais para atender às demandas pedagógicas, sem nos darmos conta do que isso representa de fato, aí, tenho que concordar que de fato estaremos diante de uma bela utopia. Entendo, que o real desprendimento de uma educação tradicional está em pequenas posturas, sendo um bom exemplo, o entendimento do professor enquanto mediador do ensino e da aprendizagem dos seus estudantes.

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  2. Num tempo de mudanças cada vez mais rápidas e de, muitas vezes, de um aprendizado diluído por conta da quantidade e velocidade de informações, como cativar a atenção dos alunos, sob a ótica das senhoras, num cenário pós pandêmico?

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    1. (& ADRIANA COELHO) João Pedro, obrigada por participar. Sua pergunta é instigante, no sentido de nos permitir pensar as nossas escolhas metodológicas. O cenário pandêmico nos exigiu lançar mão de métodos novos com auxílio de ferramentas desconhecidas, por muitos profissionais da educação. E, por tudo isso, num primeiro momento foi bastante complicado conciliar domínio dos métodos e das ferramentas de ensino com os velhos dilemas da sala de aula, dentre eles, a atenção dos alunos. Desse modo, a saída era humanizar a aula, ou seja, não ignorar o contexto em seus limites e possibilidades de ensino e aprendizagem, para que os estudantes se sentissem pertencentes aquele novo "âmbito escolar". E, assim, num espaço humanizado e acolhedor, ter condições de ensinar e aprender sobre História.

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  3. Em um cenário de grandes mudanças e diversos métodos de aula, como lidar com o cenário atual de jovens que perderam o interesse em prestar atenção nas aulas pós pandemia? e ainda com vestígios dela.

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    1. (& Adriana Coelho) Muito obrigado pela sua questão, muito pertinente. Talvez fosse interessante retomarmos as considerações de Jean Piaget ao afirmar que, “o interesse é a orientação própria a todo ato de assimilação mental. Assimilar, mentalmente, é incorporar um objeto à atividade do sujeito, e esta relação de incorporação entre o objeto e o eu não é outra que o interesse, no sentido mais direto do termo”. Ou seja, aprendemos quando construímos vínculos, quando aquilo que se aprende faz sentido. Notadamente, falar em aprendizagem histórica para os nossos estudantes, também, só fará sentido se estes estiverem conscientes e interessados pelo conhecimento histórico na sua vida prática. Nesse sentido, como Simone Sponholz advoga, a educação acontece quando as informações e conhecimento fazem sentido, tanto para quem as “transmite” quanto para quem as “recebe”, logo, construir um ensino que obtenha bons êxitos deve ser uma preocupação do docente e que passa pela interação dos agentes da educação, isto é, professor-educandos, no cerne do dia a dia da sala de aula. No entanto, em decorrência dos estudantes quase sempre questionarem os propósitos da disciplina de História e associá-la à memorização de datas, eventos e nomes de personalidades políticas das Histórias local, nacional e/ou mundial, nos interessa entender quais os sentidos de aprender sobre o passado, pois a medida em que essa visão revela um desinteresse em aprender, reforça a fragilidade da aprendizagem histórica, quanto mais em uma situação pós pandêmica, como vc muito bem pontua. Cientes de que são múltiplas as realidades da sala de aula de História em que se agregam os traumas decorrentes da pandemia SARS COVID 19, consideramos a existência de alguns questionamentos, tais como: o que fazer em sala de aula com estudantes desanimados, que ocupam o papel de coadjuvantes do próprio conhecimento e sem interesse pelo saber histórico? Como adaptar as aulas de História no sentido de que elas possam fomentar o interesse desses sujeitos em participarem da construção da sua aprendizagem de forma recíproca e desdobrar em consciência histórica? Frente a essa realidade, percebe-se que alguns estudantes estão “perdidos” no seu processo educacional, desconectados do real sentido da educação escolar. Em suas falas, quando questionados sobre suas ideias acerca do que aprendem na escola, especificamente os conteúdos de História, fica evidente além do seu papel de observador ou de memorizador das aulas, um abismo entre o saber histórico e a vida prática deles. Ou seja, terra fértil para o tão temido pensamento: por que preciso aprender História, se tudo é passado? Embora, nada do que venha sendo apontado até aqui seja novo nos campos das pesquisas sobre o Ensino de História e da Educação, julgamos ser um problema que permanece em voga e, portanto, digno de reflexões e tomadas de medidas, que obviamente não são fórmulas mágicas. Acreditamos, contudo, que o constante diálogo com Psicólogos da Educação, Educadores, Professores de História de diferentes realidades de ensino e debates como o Simpósio Eletrônico de Ensino de História nos ajudam a pensar caminhos concretos para a sala de aula de História que acreditamos.

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  4. Olá, Marize e Adriana!
    Tudo bem? Espero que sim.

    No curso do texto, percebe-se a preocupação acerca de um aprendizado histórico, vinculado à consciência histórica – nos moldes do pensamento de Jörn Rüsen. Nesse sentido pergunto: como garantir que tal processo, no qual se exige “abrir os olhos” para a História em que se vive situado(a) – sem perder de vista a presença do passado, aconteça em tempos de negacionismo e revisionismo histórico?

    Parabéns pelo texto.
    Abraço!

    Antonio José de Souza
    (Bahia)

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    1. Olá Antônio. Vc nos fez lembrar a emblemática pergunta feita pela Professora Leyla Perrone Moisés em um dos seus mais celebrados textos, “Para que servem as humanidades”. A resposta que a ela se seguiu, serve para traduzir o elemento central que perpassa a sua questão: “as humanidades servem para pensar a finalidade e a qualidade da existência humana, para além do simples alongamento de sua duração ou do bem-estar baseado no consumo”. Ao pensar o ensino e aprendizado de história, o que se percebe em suas molduras metodológicas é um nítido distanciamento daquilo que em si são suas finalidades últimas, o sentido e a consciência histórica. Lembremos que fazer sentido é problematizar. Não por outro motivo, um dos mais recorrentes argumentos de alun@s do ensino Fundamental e Médio é que “estudar História é chato e sem propósito”. Tal rotura é derivada em larga medida de um ensino pautado em conteúdos repassados com a imperativa preocupação de aprová-los para o ano seguinte resultando em uma aprendizagem pouco ou nada significativa, a qual rapidamente torna-se esquecida e sem nenhuma relação com sua vida e visão de mundo. Aulas frias, compartimentadas e desprovidas de sentido, voltadas para a aquisição cumulativa de informações estruturadas em fato, datas, causas e consequências. O desinteresse seria, senão, um dos sintomas da ausência de sentido em aprender história, em outras palavras, de uma concepção de história assentada em uma ideia de história engessada no estudo do passado sem nenhum vínculo e relação com questões presentes ou futuras e tão pouco em sua vida prática.
      Daí as nossas inquietações sobre os elementos que compõe as estruturas relacionais de ensino e aprendizagem que escapem ao jogo fictício de uma aula que nada resulta enquanto conhecimento e consciência histórica e que, por outro lado, consolide de forma consistente e concreta o que Jörn Russen conceitua de aprendizagem histórica como “um processo coerente de operações mentais superiores e cognitivas com desenvolvimentos visíveis”. Não podemos esquecer que Rüssen delineia com matizes intensos um dos elementos centrais do texto aqui apresentado, ao apontar que a consciência histórica só é plausível quando o sujeito consegue se situar no tempo e no espaço experienciando uma percepção interligada às suas referências e vivências. Em outras palavras, com base na Didática da História alemã, Russen mostra que Ensino de História reveste-se de fundamental importância para a formação de sentido (consciência histórica), no qual o conhecimento do passado adquire significado na vida prática d@ alun@ já que este reconhece e percebe o intrínseco daquilo que trata o conteúdo estudado.
      E aqui chegamos à outra questão central, o conhecimento histórico imbuído de sentido que deriva de uma prática metodológica pautada nas sensibilidades. Ou seja, o entendimento de que para uma aula “ir além do óbvio”, é preciso que seja um processo constituído por dinâmicas de aproximações entre Professor@, alun@ e conteúdo e isso, tem resultado muito no dia a dia da sala de aula de história, pois ao “produzir” sentido, os argumentos negacionistas e revisionistas são paulatinamente enfraquecidos.

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  5. Sandra Maria da Silva Kuabata14 de setembro de 2022 às 16:27

    Essas mudanças contrariam a BNCC.?

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    1. Prezada Sandra, a sua inquietação é muito pertinente, pois um dos mais recorrentes argumentos de alunos em diversos anos do ensino Fundamental e Médio é que “estudar História é chato e sem propósito”. Por outro lado, muitos são os professores que reclamam de alunos desmotivados e desatentos e de conteúdos dissonantes do universo significativo e identitário das crianças e adolescentes. Tal fato decorre, em larga medida, de uma educação conservadora e de um ensino pautado em conteúdos repassados com a imperativa preocupação de aprová-los para o ano seguinte, resultando em uma aprendizagem pouco ou nada significativa, a qual rapidamente torna-se esquecida e sem nenhuma relação com sua vida e visão de mundo. A BNCC, tal como foi homologada, não provoca uma educação que “faça sentido”, uma vez que nas suas linhas o que permanece é um ensino desprovido de envolvimento e questionamentos. A proposição apontada em nosso texto é um enfrentamento a todas as práticas que automatizem o aprendizado. Entendemos como absolutamente necessária a constante compreensão sobre qual o ensino de História permeia a Base Nacional Comum Curricular. Para isso, conhecer a fundo o documento, bem como as cartas da ANPUH. Somos apologistas de um ensino que envolva @s estudantes e @s faça questionar, refletir e perceber os seus próprios papéis enquanto sujeitos históricos.

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  6. Dentro da proposta de Rüsen de uma nova forma de ensinar história, conseguimos ensinar melhor? porque?

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    1. Caro Everton, muito obrigada pelo seu questionamento. De acordo com Jörn Rüsen, a aprendizagem histórica é um processo mental de adquirir competências históricas através do processamento da experiência da mudança temporal do mundo humano no passado. Assim, partimos do pressuposto que o conhecimento histórico, produzido em sala de aula, não pode ser dissociado das necessidades da vida prática do educando. Em outras palavras, a manutenção da ideia simplista dos estudantes acerca das aulas de História, associada ao ato de memorização de conteúdos, tal como era preconizado no ensino tradicionalista, seria realmente decorrente da sua compreensão sobre a disciplina ou das condições em que as aulas ainda são realizadas, isto é, dos métodos utilizados pelo professor? Por essa razão, é preciso também pensar no papel do professor de História, uma vez que, não dá para desejar o “descongelamento” do passado pelos estudantes, se nós professores não nos “descongelamos”, primeiramente, dentro da nossa didática. Como isso é possível? Repensando nossa prática, nosso modo de construir as aulas de História e as relações estabelecidas com os estudantes. Na perspectiva de Jörn Rüsen, a aprendizagem histórica enquanto um processo mental de adquirir competências históricas através do processamento da experiência da mudança temporal do mundo humano no passado. A partir dessa definição, defendemos que aprender, historicamente remete a um processo de ensino e aprendizado com vista ao protagonismo estudantil em seus aspectos pedagógicos e cognitivos. Em conformidade com a definição de Rüsen, aprendizagem histórica é a aquisição de competências históricas, ou seja, significa conseguir enxergar através do processamento da experiência. Ou seja, é o docente fazer da aula de História o momento em que aquelas crianças diante dos conteúdos, pesquisando, interpretando fontes históricas, descongelem o passado, e passe da compreensão da História enquanto narrativa cronológica ao entendimento de uma narrativa de vidas em movimento. Nessa configuração, o estudante, a partir do processo de ensino da História, consegue reconhecer os sujeitos históricos do passado, dentro de suas dinâmicas, dos seus movimentos históricos, neste ponto pode-se falar de aprendizagem histórica. Porque então conseguiram a compreensão de que a História não é aquele tempo cronológico, não é o evento em si que interessa, mas as dinâmicas das pessoas dentro desses eventos, é isso que interessa.

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  7. Boa Noite!
    Primeiramente gostaria de parabenizar pela excelente reflexão, pensar a didática da história e ir adequando as práticas de ensino para uma atuação interdisciplinar e inovadora se torna fundamental para um engajamento dos nossos discentes. Visto que por muitos anos a disciplina de História foi associada a memorização de datas e fatos, o que desencadeou um desestimulo enorme em nosso alunado.
    A ampliação de usos de novas metodologias de ensino tem contribuído imensamente à superação de uma sala de aula fria e reprodutiva, mas sabemos que ainda temos muito o que evoluir e melhorar, mas podemos dizer que já avançamos muito e estamos em um bom caminho.

    Alvanir Ivaneide Alves da Silva

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  8. (& Adriana Coelho) Prezada Alvanir. Ficamos gratas por sua intervenção e concordamos com a sua afirmação que, ainda que tenhamos avançado, “ainda temos muito o que evoluir e melhorar”. Nesse sentido, acreditamos que todas as modificações que o ensino de História passou em meados do século XX e pelas quais ainda passa nos dias de hoje são responsáveis por retirar-lhe o foco das biografias das personalidades políticas e os seus feitos, datações, conflitos e seus desdobramentos. A História passou a contemplar mulheres, indígenas, asiáticos, negros e tantos outros grupos, das mais diversificadas etnias e sociedades, de tempos também diversos, que dando visibilidade às experiências e tudo o mais que foi produzido e registrado por esses “novos” sujeitos históricos. Mas, ao longo dos diálogos teóricos que travamos em nossos estudos, entendemos que não basta apenas a inserção desses indivíduos na História, mas sim é preciso fazê-los chegar às salas de aulas, retirá-los do âmbito da academia para que adentrem e sejam conhecidos pelos estudantes da educação básica de ensino. Porquê? Para que, entre outras possibilidades, os estudantes se reconheçam na história estudada. Em um plano mais geral, um ensino de História que busque a interpretação de vestígios da humanidade e organize interpretações para a trajetória humana. Desse modo, entendemos que falar de um ensino e também de uma aprendizagem significativa é estar atento ao quanto de sentido, conexões e aproximações os estudantes são capazes de estabelecer nas aulas de História. Para tanto, reforçamos que no processo de ensino-aprendizagem da Ciência histórica é fundamental que o (a) docente esteja atento e disposto a repensar sua prática, uma vez que, a metodologia aplicada interfere significativamente na dinâmica da sala de aula, bem como nos propósitos do conhecimento científico. Ou seja, tão importante quanto propor uma metodologia ativa, com o propósito de tornar o (a)estudante protagonista nas aulas, é a compreensão por parte do (a) professor (a) das possibilidades e limites que cercam os métodos ativos. Outro ponto, já comentado por nós em outra pergunta é a necessidade do constante diálogo com Psicólogos da Educação, Educadores, Professores de História de diferentes realidades de ensino e debates como o Simpósio Eletrônico de Ensino de História para pensarmos caminhos concretos para a sala de aula de História que acreditamos.

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