Alexandro Neundorf e Aruanã Antonio dos Passos

 PESQUISA, ENSINO E O PROBLEMA DOS VIESES: DA PESQUISA AOS USOS DO SABER HISTÓRICO

 

Alexandro Neundorf

Aruanã Antonio dos Passos

 

Este trabalho tem por objetivo, em um primeiro momento, apresentar um panorama dos principais problemas relacionados tanto à análise historiadora das fontes, quanto à própria síntese historiográfica com atenção especial pretende-se discutir os vieses que podem interferir sobremaneira na prática do ofício, quais sejam, o chamado viés da confirmação (confirmation bias), o viés retrospectivo (hindsight bias) e o viés da publicação (publication bias); em um segundo momento, procuramos discutir as formas de articulação da prática historiográfica em sala de aula e a analítica de fontes históricas no ensino de história.

 

São vários os problemas analíticos a que o historiador precisa se confrontar em cada empreendimento de pesquisa que realiza (e em cada uma de suas etapas). Desde o mais fundamental e recorrente erro anacrônico, até os indevidos – e igualmente recorrentes – problemas de superinterpretação, de memória e de autoilusão de isenção e neutralidade, temos atualmente novas e distintas dificuldades que podem comprometer significativamente um trabalho de pesquisa, tanto na análise e na escrita da história, como nos momentos anteriores à própria elaboração de um projeto e posteriores à publicação dos trabalhos. Novas e distintas dificuldades, pois os vieses cognitivos são objeto de estudos recentes em diferentes áreas como a psicologia, a economia e as neurociências, além de se apresentarem como uma infinidade de diferentes erros, tendências e desvios dos standards de racionalidade, na tomada de decisões e do bom julgamento.

 

Comumente, já nos primeiros anos de formação, o historiador e mesmo o professor de história, se deparam com aquele que seria o principal erro que alguém com tal formação poderia incorrer: o anacronismo. Depois, com a continuidade da formação, novos problemas e erros são também apresentados e postos ao nosso horizonte de trabalho, tais como o da superinterpretação na análise das fontes, ou então os diversos vieses de memória, presentes não apenas nos trabalhos que focam análise de fontes orais e da própria memória, como também atuantes na análise do historiador.

 

Dos vieses cognitivos recentemente estudados, os que produzem os problemas mais evidentes para o trabalho do historiador são o viés da confirmação e o viés retrospectivo, além do viés da publicação que também produz efeitos indesejáveis sobre futuros pesquisadores e professores, ou então, sobre objetos à serem pesquisados.

 

Um panorama de problemas e desvios mais comuns à atividade historiadora, do ensino à pesquisa.

 

Um dos primeiros problemas que surge à atividade historiadora, já nos primeiros anos de formação, certamente diz respeito às sutilezas do olhar empreendido pelo analista ao passado. Usualmente chamado “anacronismo”, tal olhar errôneo acerca do passado poderia ser resumido na utilização de conceitos e ideias de determinada época – e, efetivamente, do presente daquele que analisa – para analisar acontecimentos de outro momento histórico. Em outros termos, o anacronismo, como a própria origem grega da palavra designa, refere-se a um olhar que se põe “contra o tempo”, através de uma incoerência cronológica, justapondo ideias, conceitos, costumes, e mesmo pessoas e objetos de diferentes tempos em um mesmo recorte temporal.

 

Embora tenha sido objeto de reflexão desde a antiguidade, o anacronismo ganhou expressão e importância para o ofício do historiador somente com os Annales, nas figuras de seus precursores, Marc Bloch e Lucien Febvre. Visto por Febvre de uma maneira bastante pronunciada – “[...] evitar o pecado dos pecados – o pecado entre todos imperdoável: o anacronismo” (FEBVRE, 2009, 33) –, o anacronismo passou a ser considerado como o principal problema que a analítica da história poderia cometer, uma vez que “cada época fabrica mentalmente seu universo” (FEBVRE, 2009, 30), há de se convir que a intrusão de elementos alienígenas a esse universo produzem erros e desvios inoportunos a qualquer reflexão.

 

De um modo geral, para Febvre, mais grave do que a intrusão de instrumentos materiais – “César morto por um tiro de browning” (FEBVRE apud BURGUIÈRE, 1993: 47) –, nada se compara ao “anacronismo de instrumentos mentais” (Ibidem: 48). Nos diz Burguière:

 

“Como acentua Febvre, toda interpretação expõe ao anacronismo. [...] O anacronismo traz, em si, ao mesmo tempo, a morte e a ampliação da história; dialeticamente, o historiador tem o poder de recusar o que distorce a dimensão das coisas, o tempo, e da manipulação de um “pecado” que, bem como o pecado original, é também a fonte do conhecimento”. (BURGUIÈRE, 1993: 48)

 

Em um sentido mais específico, podemos também pensar em diferentes tipos, níveis e motivações para o fenômeno do anacronismo. Com relação aos tipos, temos, por exemplo, o paracronismo (que ocorre quando uma coisa aparece posteriormente em um período de tempo em que não é normalmente mais encontrada) e o procronismo (quando aparece antes do período em que deveria). Em se tratando de níveis, podemos pensar em quão deslocado se encontra o objeto de anacronismo. E, em termos de motivação, seria prudente pensar que em nossa atividade existem dois polos, entre uma atitude claramente deliberada e outra claramente inconsciente de realizar uma abordagem anacrônica. Motivações políticas e invenção de tradições, por exemplo, podem ser enquadradas como atitudes deliberadas na promoção do anacronismo. Além disso, é preciso mencionar um uso retórico ou hiperbólico do anacronismo, com fins heurísticos e metafóricos, como, por exemplo, quando se fala em intelectuais na antiguidade, ou reichs antes da Alemanha unificada, ou ainda socialismos antes da Revolução Industrial.

 

Embora trate de uma motivação mais geral para a falsificação, Anthony Grafton em “Forgers and Critics” trabalha toda um amplo panorama de atitudes deliberadamente falsificadoras e adulteradoras da história, desde o Egito antigo até a Idade Média, e menciona que “nos séculos XVII, XVIII e XIX todas estas práticas [falsificadoras] continuaram. Estudiosos continuaram a forjar, por vezes, em busca de ganho pessoal ou profissional” (GRAFTON, 1990, p.32, tradução livre). Sobre as falsificações e anacronismos intencionais, vale dizer que:

 

Outro aspecto que vale pontuar, mesmo que rapidamente, é o aspecto análogo ao anacronismo, mas que se desenvolve quando implantamos algo que não era para estar naquele espaço: o anatopismo.

 

Outro problema de análise, razoavelmente comum, é o da superinterpretação. Em boa parte de sua obra, Umberto Eco trata a questão da interpretação, sendo que em “Obra Aberta” (2003) opera especificamente a questão da indeterminação na arte hodierna atentando para o papel ativo que o intérprete desenvolve na estruturação de objetos dotados de valor estético. Este trabalho rendeu discussão e material para “Interpretação e Superinterpretação” (1993), onde busca desfazer algumas interpretações suscitadas, principalmente relacionadas com sua ideia de obra aberta a uma pluralidade de interpretações e a uma semiótica ilimitada. Eco argumenta que a pluralidade e o caráter ilimitado não significavam ausência de critérios e limites para a interpretação - “a noção de uma semiótica ilimitada não leva à conclusão de que a interpretação não tem critérios” –, mas que “interpretar um texto significa explicar porque essas palavras podem fazer várias coisas (e não outras) através do modo pelo qual são interpretadas” (ECO, 1993, p 28).

 

Derivado dessa discussão, Eco propõe a ideia de superinterpretação – em parte, baseando-se também nas próprias interpretações realizadas a partir de seus trabalhos anteriores –, que nada mais seria do que uma ação interpretativa que extrai mais do que realmente o objeto interpretado/analisado teria realmente a dizer. Superinterpretar pressupõe uma ação imaginativa, uma ação de justaposição de textos que antecedem e que não estão contidos no texto analisado. Superinterpretar é, nesses termos, dobrar a análise às preconcepções do sujeito que analisa/interpreta, às suas demandas explicativas e necessidades de fundamentação.

 

Obviamente que toda superinterpretação corresponde a um esgarçamento dos critérios que separam uma interpretação considerada coerente de outra incoerente, falsa ou inconsistente. E esses critérios são produto de um contexto específico, que depende do tipo de texto, das liberdades postas ao público que interpreta, das demandas daquela sociedade, etc. Portanto, o que é ou não superinterpretação depende do eixo em que orbita esse conjunto de critérios.

 

Além disso, para os objetivos desse amplo panorama, não podemos deixar de mencionar os problemas advindos da própria memória. Para Jacques Le Goff, a memória seria uma “propriedade de conservar certas informações” que “remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas” (LE GOFF, 1990, p. 423).

 

A memória também se tornou um objeto de estudo e reflexão para a história apenas muito recentemente, sendo mais precisamente a partir dos anos 1970, no bojo das renovações oferecidas pelos Annales e dos empréstimos que a história desenvolveu efetivamente junto a outros campos de conhecimento, como a psicologia, a sociologia e a antropologia.

 

Embora a discussão sobre a memória tenha uma relação mais profunda e específica com a História Oral, os problemas advindos da análise e interpretação da memória também incorrem sobremaneira sobre o trabalho do historiador de um modo geral. Problemas como o da seletividade da memória, dos interditos, esquecimentos, recalques, da justaposição de memórias, dos eventos fundadores e da simplificação do passado, etc., são particulares da memória individual, mas também podem ser derivados à memória coletiva e a própria história.

 

Diretamente relacionado aos pontos mencionados anteriormente, podemos colocar como um problema para o historiador e para o professor de história, no mesmo nível dos problemas mencionados até então, a questão da (auto) ilusão de isenção e neutralidade. Embora tenha se tornado uma imposição no século XIX, na esteira da cientificização dos campos de saber e especificamente da história, a neutralidade axiológica, a extirpação de toda subjetividade, de toda contaminação ideológica, logo seria questionada e posta como objeto de crítica. Ao menos, nos moldes que se impunha pela ilusão positivista, de uma física social.

 

A partir de meados do século XX já não se apresentava mais como uma necessidade irrecorrível, mas como uma busca, como um horizonte ético. Porém, apesar dessa mudança de orientação, o mito da neutralidade e isenção total ainda permanecem como uma espécie de ideal difuso no imaginário social e especificamente no de muitos profissionais da história.

 

Vale consideração também vários outros aspectos pertinentes a esse panorama, mas que aqui apenas mencionaremos de passagem: a questão dos tropos de linguagem atuantes ao nível da síntese (e da própria análise, ou, mesmo, em um nível pré-analítico, de projeto), as prenoções e as petições de princípio orientando a atividade histórica como um todo, e, por fim, há de se mencionar também iniciativas pontuais de discussão e teorização sobre os usos e abusos da história. Cada uma dessas reflexões teóricas podem orientar os historiadores do presente para a crítica de seu tempo e sua intervenção em espaço público. Como aponta Arendt, em tempos de perda da autoridade no mundo moderno cade a nós o reestabelecer os sentidos originais da política através da pensar e do julgar (ARENDT, 1997).

 

O problema dos vieses: à guiza de conclusão.

 

Conjuntamente aos problemas mencionados acima, é importante estendermos nossa análise para alguns aspectos que receberam apenas recentemente maior atenção, mesmo que na reflexão especificamente histórica tenham ainda uma relevância bastante tímida enquanto objeto de reflexão.

 

Dentre as dificuldades – erros, desvios e tendências analíticas, de síntese, de projeto e de publicação – que se apresentam ao historiador e também ao professor de história, podemos mencionar os vários vieses cognitivos, que percorrem uma gama variada de tipos (vieses sociais, vieses e erros de memória, vieses comportamentais, de crença e de tomada de decisões, etc.), naturezas e impactos.

 

Antes, porém, para deixar mais claro alguns pontos, gostaríamos de trabalhar uma sistematização dos momentos que fundamentam nosso ofício, o de historiar e refletir sobre a temporalidade que nos funda como seres humanos (e baseando-nos livremente na tese de que somos seres temporais e históricos (BLOCH, 2001; RÜSEN, 2001).

 

Em um primeiro momento, quando os interesses, a curiosidade ou a necessidade de buscar explicações surgem, temos efetivamente o ponto original de um trabalho que, a depender de sua sequência, pode se tornar um trabalho historiador. Poderíamos referi-lo como etapa ou momento de pré-projeto. A partir de então, quando os interesses, necessidades ou a simples curiosidade se tornam uma dúvida objetivada em uma forma sistematizada de projeto de pesquisa, temos uma nova etapa ou momento. Que poderíamos chamar simplesmente de etapa ou momento de projeto.

 

A seguir, quando as questões e objetivos à serem respondidos com a pesquisa, assim como o método e a abordagem teórico-conceitual são definidos (mesmo que de forma bastante preliminar), começamos uma nova etapa, que se desdobra em um dos aspectos mais importantes da pesquisa histórica: a analítica. Embora esteja presente em cada um dos momentos, o viés da confirmação (confirmation bias) é mais facilmente identificado nas etapas iniciais de uma pesquisa e pode ser definido como uma tendência para procurar, interpretar, focar e lembrar de informações que, de uma forma ou de outra, confirmam nossas preconcepções e preconceitos, crenças e hipóteses.

 

Traduzindo nos termos de uma pesquisa histórica, o viés da confirmação atua na seleção das fontes à serem utilizadas, na abordagem conceitual e teórica e na própria leitura e análise produzidas. Talvez o lado mais pernicioso deste viés se apresente na seleção da empiria que referenda as teses defendidas, quando toda uma gama de fontes que as contradizem são postas de lado, escamoteadas e sequer referenciadas. Já em se tratando do viés retrospectivo (hindsight bias), é no momento da própria análise e síntese que se faz mais presente. É evidente, quando na análise efetuada, se recorre a abordagens do tipo “tal fato era inevitável”, ou “de acordo com o concatenamento das causas, era evidente que tal acontecimento ocorreria”. Ou seja, em visões históricas que propõe a inevitabilidade e a previsibilidade dos eventos.

 

Porém, mais especificamente, o viés retrospectivo pode ser resumido a uma tendência de enxergar a história como determinista e, em termos de análise, buscar a reflexão após o evento ocorrido desconsiderando o fato de os sujeitos que tomaram as ações não possuírem prognósticos ou previsões do que viria a ocorrer.

 

Um problema da última fase de vida de uma pesquisa, o viés da publicação (publication bias) também produz impactos mais gerais, sobre a comunidade de profissionais como um todo. Em linhas gerais, poderíamos nos referir ao termo “viés de publicação” como “a tendência de uma maior proporção de publicação de resultados positivos de experimentos estatisticamente significativos e, por outro lado, uma maior proporção de resultados negativos ou nulos estatisticamente significantes não serem publicados” (TORGERSON, 2006, p. 89, tradução livre). Tal viés faz parte de um conjunto mais amplo de vieses usualmente chamado de viés de relatório (reporting bias), definido como uma revelação ou supressão seletiva de informação, tanto em sala de aula quando nas oficinas de pesquisa. Aos nossos olhos, a analítica das fontes é uma alternativa indispensável para superar os desafios éticos do presente, desafios esses marcados pelos signos da censura e da ignorância quanto à realidade da prática do trabalho dos historiadores em salas de aula de todo país.

 

Referências biográficas

 

Alexandro Neundorf é doutor em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Contato: alexandroneundorf@gmail.com.

 

Aruanã Antonio dos Passos é doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Docente do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Pato Branco. Contato: aruanaa@utfpr.edu.br.

 

Referências  bibliográficas

 

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. 4.ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.

 

BLOCH, Marc. Apologia da História ou O Oficio de Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

 

BURGUIÈRE, André. (Org.) Dicionário das ciências históricas. Rio de Janeiro: Imago, 1993.

 

ECO, Umberto. Obra Aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas. São Paulo: Perspectiva, 2003.

 

______. Superinterpretando textos. In: _____. Interpretação e superinterpretação. SP: Martins Fontes, 1993, p.53-77.

 

GRAFTON, Anthony. Forgers and Critics: Creativity and Duplicity in Western Scholarship. Princeton: Princeton University Press, 1990.

 

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1990.

 

RÜSEN, Jörn. Razão Histórica – Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Ed. UNB, 2001.

 

TORGERSON Carole J. Publication Bias: The Achilles' Heel of Systematic Reviews? In: British Journal of Educational Studies, Vol. 54, No. 1, Março/2006, p. 89-102.

5 comentários:

  1. Parabéns, queridos pela reflexão e obrigado por compartilhar conosco.
    Porque a concepção do estado possui uma forte influência na prática pedagógica de professores no qual reproduzem os conteúdos fornecidos desconsiderando a criticidade e a realidade do educando sendo o educador essencial na construção desse saber? Se o mesmo visa colocar o educando como parte da história, gerador de conhecimento, agente do processo, porque o Ensino de História preocupa tanto Estado ao ponto do mesmo modificar currículos escolares?

    Bartolomeu Lima Sá Júnior

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    1. Obrigado pela questão Bartolomeu!

      Acreditamos que em boa medida somos conformados pelas instituições que fazemos parte. O estado não foge à regra, é constituído por um conjunto de indivíduos marcados pelas instituições que lhe formaram. No entanto, as mudanças quando propostas pretendem fomentar no estudante uma posição de protagonismo em relação ao seu desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional, ainda que se trate de propostas voltadas a interesses de mercado e não estritamente educacionais. Agora, você levanta um ponto fundamental deste debate que é a função e presença dos educadores na própria construção dos currículos e dos materiais didáticos e suportes para um processo de ensino-aprendizagem ressignificados. Não podemos concordar mais com a sua provocação!

      Então, se em certa medida as instituições, seu ethos, habitus, regras formais e informais de funcionamento, etc., operam na conformação do pensar e do agir dos seus operadores, também devemos entender que existem pontos de fuga nessa conformação e espaços de atuação que não são necessariamente espaços controlados pela institucionalidade. A maneira como o educador constroi seu currículo, como ele encaminha uma aula, os debates que levanta, sua atuação extra-classe, etc., são aspectos desse espaço de fuga.

      Agora, sua segunda provocação traz outra reflexão conexa. Qual seja, o interesse do Estado em controlar a escrita da História e seu ensino. Poderíamos falar do clichê conhecido: “a história é escrita pelos vencedores”. Desde o século XIX, modernamente, o Estado assumiu o controle das instituições educacionais com o objetivo de produzir consenso e identidade nacionais. Vivemos ainda os desdobramentos desse processo. Sem dúvida, há necessidade de nos posicionarmos nesse processe para que ele não seja dominado por aqueles que já controlam os poderes e ocupam os espaços de poder.

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  2. Olá autores! Pergunto se parte do anacronismo que vemos na compreensão e pesquisa da historia não surge da falta de relação da historia com os indivíduos e por decorrência sua moralização, tendo em vista as carências de orientação da vida prática? Abcs

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    1. Olá! Sua questão levanta, pelo menos, dois aspectos: uma dimensão formal (da pesquisa histórica) e outra do saber e da consciência histórica na vida prática. Sobre o primeiro aspecto, a pluralidade de pesquisas e abordagens dificulta qualquer generalização, mas o anacronismo permanece oscilando entre posicionamentos críticos aceitos pela comunidade acadêmica e entre um dos maiores erros no processo de investigação histórica.

      Em torno do segundo aspecto, poderíamos recorrer ao conceito de consciência histórica. Sendo assim, acreditamos que todo ser humano tem instrumentos de orientação temporal que compõe suas identidades. E, inegavelmente, há diferenças de gradação e níveis de compreensão do passado.

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