REFLEXÕES SOBRE A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA A PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES DA
DITADURA CIVIL-MILITAR NO BRASIL (1964-1985) EM LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA
Fábio Alexandre da Silva
Considerações
iniciais
Os livros didáticos de História (LDHs) são, sem dúvida, uma ferramenta
primordial no processo de ensino e aprendizagem da disciplina, determinantes
não apenas no processo de seleção de conteúdos como também no modo de condução
das aulas. Ocupam ainda papel de destaque no campo das políticas educacionais,
sobretudo no que tange ao aspecto ideológico, exercendo influência na formação
das mentalidades e convertendo-se em um instrumento potencial de controle por
parte dos Estados nacionais (CHOPPIN, 2009; MUNAKATA, 1997; BITTENCOURT, 1993).
No Brasil, por exemplo, tal controle tornou-se mais evidente a partir da
segunda metade do século XX, principalmente durante a ditadura civil-militar
(1964-1985), período em que as deliberações do Estado – usurpado pelos
militares – incidiram-se diretamente sobre a produção dos manuais escolares, interferindo
e direcionando os conteúdos veiculados nesses materiais. A disciplina de
História, vale dizer, foi uma das mais impactadas pelas políticas ditatoriais,
sendo, através da Lei nº 5.692/71, dissolvida em conjunto com a de
Geografia – dando lugar, no ensino de 1º grau, aos chamados Estudos Sociais, o
que culminou na diluição da capacidade de reflexão e criticidade das aulas,
resultante do caráter tecnicista adotado no período (GERMANO, 2008).
Quase 40 anos após o fim da ditadura e o retorno da disciplina de
História (e outras humanidades) ao currículo escolar, esse cenário de
cerceamento e controle político-ideológico voltou a dar as caras no Brasil. Desde
2016, em
particular, tem havido uma forte vigilância sobre o ensino de história
escolar e as narrativas históricas em livros didáticos, vigilância que é
endossada pelo posicionamento autoritário de representantes políticos que propõem
“revisar” e “recontar” a história do Brasil, sobretudo em relação ao contexto
da ditadura. Aspecto que pode reverberar diretamente sobre os conteúdos
curriculares, haja vista que para além de ocupar um papel de protagonista do
processo de ensino e aprendizagem, o LDH possui também um caráter mercadológico
que atua transversalmente sobre o modo de escrita e as concepções teóricas de
quem o escreve (BITTENCOURT, 1993; MUNAKATA, 1997).
Diante dessa questão, emerge uma reflexão importante no entorno da natureza
dos manuais de História: em que medida eles podem servir como instrumento capaz
de auxiliar na formação da consciência histórica dos alunos e promover
reflexões acerca dos horrores protagonizados na ditadura (supressão de direitos
e liberdades, repressão, censura, tortura, desaparecimentos e mortes)? Tal
indagação é percorrida e problematizada no decorrer deste ensaio, no qual se
busca refletir sobre a capacidade narrativa dos livros didáticos de História,
articulando o conceito rüseniano de consciência histórica às representações da
ditadura civil-militar no Brasil presentes em duas diferentes edições
didáticas, a partir de uma breve exposição teórico-documental, trazida à baila
nos próximos parágrafos.
Abordagem metodológica
Visando elucidar a
questão proposta, são tomados como fonte documental dois manuais didáticos de
História de períodos e autoria distintos, nos quais se percorre brevemente o
modo de abordagem dos autores no que diz respeito à ditadura civil-militar no
Brasil em diálogo com as considerações de Jörn Rüsen sobre a consciência
histórica. O objetivo, aqui, é verificar diacronicamente, isto é, numa
perspectiva de progressão histórica, o nível de criticidade de cada narrativa
acerca do último período ditatorial brasileiro, identificando nas obras como os
fatos históricos são apresentados ao aluno-leitor. Neste intuito, verifica-se
se os conteúdos são escritos e concatenados com potencial reflexivo e
capacidade de estímulo à consciência histórica ou se a ditadura é representada
de forma superficial e/ou fragmentada, mitigando, assim, as possibilidades de
conscientização sobre o período estudado. Para atingir este fim, lança-se mão
do seguinte corpus documental:
Quadro 1 – O corpus documental - Fonte: O autor (2022)
Livro didático de História: um instrumento de
formação da consciência histórica sobre a ditadura civil-militar?
Deve-se considerar, em primeiro lugar, que apesar de a consciência
histórica estar imbricada aos processos de ensino e aprendizagem em História, a
base do
pensamento histórico é, antes de tudo, inerente à natureza humana, isto é,
manifesta-se de diferentes formas em todos os indivíduos. Na definição de Rüsen
(2001), a consciência histórica “não é algo que os homens podem ter ou não –
ela é algo universalmente humano, dada necessariamente junto com a
intencionalidade da vida prática dos homens. A consciência histórica
enraíza-se, pois, na historicidade intrínseca à própria vida humana prática” (p.
78). Ou seja, a historicidade existe antes mesmo da aprendizagem escolar, ela
“é a própria condição da existência humana, é algo que nos constitui enquanto
espécie. O que varia são as formas de apreensão dessa historicidade, ou, nos
termos de Rüsen, as perspectivas de atribuição de sentido à experiência
temporal.” (CERRI, 2011, p. 30).
Entretanto, há que se
atentar que a “consciência histórica pressupõe o indivíduo existindo em grupo,
tomando-se em referência aos demais, de modo que a percepção e a significação
do tempo só podem ser coletivas” (CERRI, 2011, p. 30-31). Nesta perspectiva, a formação da consciência e o reconhecimento da
própria identidade histórica dão-se no âmbito da coletividade, estando imersos,
então, no processo de educação histórica. Cabe alertar, contudo, sobre os procedimentos
equivocados de construção da consciência histórica, centrados, muitas vezes, em
uma narrativa singular do passado, incapaz de levar à reflexão e/ou visão
crítica da realidade. Sobre isso, Isabel Barca (2011) adverte que
“uma narrativa singular do passado ou do presente,
seja para produzir patriotas ou democratas, assume sempre a forma de
doutrinamento e não de pensamento aberto [...]. Em Educação Histórica, fornecer
aos jovens a versão da História em sequência cronológica [tradicional], como
quer algum senso comum, além de ser a-histórico, de pouco servirá para lidar
com a sociedade atual (p. 39)”.
Para construir, portanto, uma narrativa histórica permeada de
criticidade, é preciso compreender as bases do pensamento histórico, entender
substantivamente como se dá a sua formação para, a partir daí, subsidiar de
modo efetivo a conscientização do aluno, que emerge, segundo Rüsen (2001), por intermédio da chamada competência
narrativa – considerada
um dos mais importantes valores educativos da História, a qual se divide em
três categorias: a) competência de experiência, relacionada ao ato de aprender
a enxergar o passado enquanto instância temporal, diferenciando-o do presente e
do futuro; b) competência de interpretação, que consiste na capacidade de
desenvolver as noções e significados temporais, possibilitando, com isso, interpretar
e julgar os eventos pretéritos de maneira qualificada; c) competência de
orientação, pela qual é possível utilizar os conhecimentos históricos “para
estabelecer um curso de ação pessoal, o que inclui tanto um projeto pessoal de
futuro quanto o engajamento consciente em projetos coletivos” (CERRI, 2011, p.
123).
Todavia, de pouco adianta falar de temas sensíveis e caros à tomada de
consciência histórica – caso da ditadura no Brasil – sem levar em conta a
realidade e o conhecimento prévio do aluno, isto é, o seu nível de
historicidade já desenvolvido. Explanar sobre a ditadura para um aluno que
ainda não apreendeu, por exemplo, a noção de democracia faz, no âmbito da
historiografia escolar, pouco ou quase nenhum sentido. Como bem pontua Luis
Fernando Cerri,
“O objetivo da educação histórica não é formar a consciência histórica,
no sentido de pressupor que ela não existe no educando, para poder criá-la.
Também não é fazer com que todos ‘cheguem’ ao ‘nível’ da ‘consciência histórica
genética’, porque as pessoas não são ou estão em um dos tipos de geração de
sentido histórico. Uma forma de geração de sentido pode ser predominante ou
mais frequente nas narrativas produzidas por um grupo” (CERRI, 2011, p.
128-129, aspas do autor).
Com efeito, a consciência histórica ocorre de forma predominante na
coletividade, porém não de modo fragmentário ou aleatório, “a partir do nada,
do vazio, mas das peças de que temos à mão” (CERRI, 2011, p. 128). Uma dessas
peças é, sem dúvida, o livro didático, que se configura, como vimos, enquanto instrumento
central de ensino e aprendizagem (BITTENCOURT, 1993). Como pilar do processo
educativo, seria lógico tomar o LDH como formador de consciência histórica. No
entanto, será que ele – livro didático – é, por si só, produtor de consciência
ou contribui, de fato, para o seu processo de desenvolvimento? Para obter
respostas, é necessário considerar que o manual escolar é, acima de tudo, um
expoente de seu contexto e, ao mesmo tempo, um objeto permeado pelas
determinações históricas. Ou seja, a sua articulação com o contexto no qual está
inserido determina, em maior ou menor grau, o tom da abordagem
teórico-conceitual dos conteúdos nele veiculados, visto que:
“Toda pesquisa
historiográfica se articula com um lugar de produção socioeconômico, político e
cultural. [...] Ela está, pois, submetida a imposições, ligada a privilégios,
enraizada em uma particularidade. É em função deste lugar que se instauram os
métodos, que se delineia uma topografia de interesses, que os documentos e as
questões, que lhes serão propostas, se organizam.” (CERTEAU, 1982, p. 65-66).
Dessa feita, a
complexidade do livro didático o torna, como assinala Circe Bittencourt (1993,
p. 3), um “suporte privilegiado para se recuperar os conhecimentos e técnicas
consideradas fundamentais por uma sociedade em uma determinada época”. Além
disso, tanto o contexto de produção quanto as políticas
educacionais são fatores determinantes no modo de abordagem aos conteúdos e na
narrativa histórica ensejada pelo(s) autor(es). O que pode ser observado, de
forma mais clara, nas obras didáticas que compõem o nosso corpus, nas quais são constatadas, conjuntamente,
a interferência da política educacional de cada época e a concepção de história
de seus autores.
O primeiro livro examinado – História do Brasil:
da independência aos nossos dias (1972), que integra a Coleção Sérgio Buarque de
Hollanda (compêndios que estudo tanto em minha dissertação de mestrado
quanto na tese de doutorado), – apresenta uma abordagem superficial à ditadura
civil-militar e, por vezes, desprovida de criticidade. Em geral, o contexto é
resumido a comentários curtos, de caráter descritivo, e as
narrativas trazem apenas um panorama da situação econômica do Brasil, porém sem
fazer menção ao quadro de perda de direitos, repressão e censura que o país
vivia sob a ditadura. Há destaque também para a cronologia política do período,
representada por um quadro meramente informativo, em que são dispostos os nomes
e mandatos dos presidentes da República desde 1946, incluindo os governos dos
generais Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967), Artur da Costa e Silva
(1967-1969) e Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), como se pode ver na figura
a seguir:
Como se nota, nenhum governo ou presidente militar é abordado na obra de
forma individual ou pormenorizada, o que possibilita inferir que a abordagem
mais amena trazida no livro decorre, em parte, do contexto sob o qual a
sociedade estava inserida, fortemente marcado pela censura – que acometeu
produções culturais e intelectuais de toda a ordem, tais como a música, o
cinema, o teatro, as novelas e os livros. Vale realçar que Sérgio Buarque de
Holanda (1902-1982), autor principal e organizador da coleção, era um notório
defensor da democracia, da liberdade político-social e dos direitos civis,
mantendo, ao longo de sua vida, uma postura crítica a regimes antidemocráticos,
a qual foi materializada em várias de suas obras, entre as quais se destaca Raízes do Brasil, de 1936 (SILVA, 2020).
Contudo, a inexistência de abordagem às políticas censórias e repressivas da
ditadura reforça a tese de interferência da censura na elaboração dos
compêndios do autor, haja vista que “os autores da Coleção Sérgio Buarque de
Hollanda, ao abordarem de forma superficial e sucinta o período de 1964 a 1971
no livro História do Brasil, driblaram uma eventual censura por parte do
governo” (MÁSCULO, 2008, p. 193).
Publicado quase 20 anos
após o fim da ditadura, o segundo livro analisado neste ensaio – História: uma abordagem integrada (2003),
de Nicolina L. de Petta e Eduardo A. B. Ojeda – trata do período ditatorial de
modo mais aprofundado e com uma abordagem mais crítica. Questão perceptível não
só no aspecto quantitativo, cujo número de páginas dedicadas à representação da
ditadura civil-militar é mais expressivo do que no manual buarqueano, mas
também na capacidade de promover reflexão e tomada de consciência acerca dos
desmandos capitaneados pelos militares que tomaram de assalto o país entre 1964
e 1985. Neste sentido, o livro apresenta uma narrativa mais ampla e totalizante
do período, que vai da caracterização político-econômica do governo Goulart
(1961-1964), perpassa pela política de reformas de base e o embate ideológico
que culminou no golpe de março/abril de 1964 e percorre as políticas econômicas
e antidemocráticas dos presidentes militares, com destaque para a emergência da
censura e a imposição dos Atos Institucionais, conceituados na obra como “uma
extensa estrutura de controle social e repressão a todos os que lhe faziam oposição.”
(PETTA; OJEDA, 2003, p. 285).
Ou seja, a ditadura civil-militar passa a ocupar um espaço quantitativa
e qualitativamente maior em relação aos compêndios buarqueanos, cujo teor
narrativo expresso pelos autores possui caraterística pluridimensional, isto é,
circunscreve-se no conjunto das dimensões de maior relevância da experiência
histórica – economia, sociedade, política e cultura (RÜSEN, 2010). É válido registrar também
que são abordadas, no mesmo capítulo, as ditaduras chilena (1973-1990),
uruguaia (1973-1985) e argentina (1976-1983), ainda que de maneira mais resumida
– porém não menos crítica – em comparação com o caso brasileiro.
Essa mudança de olhar
pode ser explicada a partir de alguns fatores centrais: a) a historicidade dos
livros, uma vez que há um intervalo de cerca de três décadas entre ambas as
publicações, o que indubitavelmente incide sobre as narrativas, os conteúdos e
as reflexões preconizadas pelos autores, dada a instituição de novas políticas
educacionais (em especial o PNLD, a nova LDB e os PCNs) e o considerável
aumento da produção acadêmica sobre a ditadura no período de redemocratização,
refletindo-se também na produção didática; b) o elemento diacrônico, visto que
as obras de S. B. de Holanda foram publicadas na
década de 1970 e as de Petta e Ojeda nos anos 2000, razão que torna a primeira
representação da ditadura mais velada e em tons menos críticos, pois além da
existência da censura, os
acontecimentos ainda estavam em curso, impossibilitando análises que
abrangessem todo o período. Por sua vez, os autores do segundo exemplar possuem,
em virtude de seu contexto de produção, maior
distanciamento temporal dos fatos e, com isso (mas não só isso), passam a
enxergar o contexto com outros prismas, sobretudo porque se dão a ver, em
várias instâncias da sociedade (na academia, na escola, nas mídias sociais, nos
jornais), novas leituras e discussões acerca das arbitrariedades e violações levadas
a cabo pelos militares nos 21 anos de ditadura.
Considerações finais
Buscou-se promover, nos limites deste texto, reflexões
em torno do
nível de criticidade das narrativas didáticas sobre o último período ditatorial
brasileiro, identificando-se, em duas edições distintas, como os eventos históricos
desse contexto são apresentados ao aluno. Em consonância com
o pensamento de Jörn Rüsen, pôde-se inferir que as obras didáticas podem
auxiliar, em maior ou menor grau, na formação da historicidade do aluno e na
sua forma de enxergar o passado. Tal conscientização, no entanto, vai depender de
algumas variáveis, entre as quais, o contexto político-econômico-cultural do
material escolar e a concepção de história de seus autores – fundamentais em
uma abordagem didática.
No caso da ditadura no Brasil, os livros didáticos analisados
apresentam diferentes formas de representação do período. No manual de Sérgio
Buarque de Holanda (1972), foram constatadas lacunas importantes na narrativa
sobre a ditadura, as quais são, digamos, preenchidas no compêndio de Nicolina
de Petta e Eduardo Ojeda (2003). As diferenças observadas decorrem, como vimos,
principalmente das determinações históricas de cada contexto de elaboração, que
incidem diretamente sobre os conteúdos estudados nos livros. Espera-se, assim, que este
breve estudo possa contribuir, em alguma medida, nas elucubrações sobre a natureza
e a capacidade de alcance e conscientização contida em uma narrativa didática, a
qual, justaposta à realidade do aluno, rompe com os paradigmas da historiografia
tradicional e configura-se como instrumento privilegiado
de reflexão sobre o presente-passado.
Referências biográficas
Fábio
Alexandre da Silva é doutorando em História pela Universidade Federal de
Pelotas – UFPel (2020-2023), mestre em Educação pela Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE (2020) e licenciado em História pela Universidade
Norte do Paraná (2017). Atualmente é professor da Secretaria de Educação do
Estado do Paraná.
Referências bibliográficas
BARCA,
Isabel. O papel da educação histórica no desenvolvimento social. In: CAINELLI, Marlene; SCHMIDT, Maria
Auxiliadora (org.). Educação histórica: teoria e pesquisa. Ijuí: Editora
Unijuí, 2011. p. 21-48.
BITTENCOURT,
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saber escolar. 1993. Tese (doutorado) – Universidade de São Paulo, Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, São Paulo, 1993.
CERRI,
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CERTEAU,
Michel de. A escrita da história. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. Rio de
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de Maria Helena C. Bastos. História da Educação, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas,
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GERMANO, José Willington. O discurso
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HOLLANDA, Sérgio
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MÁSCULO, José Cássio. A coleção Sérgio Buarque de Hollanda: livros didáticos e ensino de
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MUNAKATA, Kazumi. Produzindo livros didáticos e paradidáticos.
1997. 223 f. Tese (doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
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PETTA;
Nicolina Luiza de; OJEDA, Eduardo Aparicio Baez. História: uma abordagem
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RÜSEN,
Jörn. Razão histórica. Teoria da história: os fundamentos da ciência histórica.
Tradução de Estevão de Rezende Martins. Brasília: Editora UnB, 2001.
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Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Mestrado em Educação, Cascavel, 2020.
Disponível em: http://tede.unioeste.br/handle/tede/4779. Acesso em: 24 maio 2022.
Alexandre Black de Albuquerque
ResponderExcluirEstando o Brasil em um período turbulento, como ele tem impactado o ensino da História nas salas de aulas? Já estaria os livros didáticos recentes de história incorporando a narrativa acrítica sobre a ditadura militar, ou mesmo a exaltando, como faz parte do grupo político que venceu as eleições de 2018?
Prezado Alexandre! Agradeço pela leitura e questionamentos endereçados à minha publicação.
ExcluirReforço que a proposta do texto - que é um desdobramento de minha tese de doutorado - é refletir acerca da (in)capacidade narrativa dos livros didáticos de História (LDHs) de contribuir para a formação da consciência histórica, particularmente no que se refere à ditadura civil-militar no Brasil. Para tanto, selecionei, aqui, uma publicação de 1970 - a Coleção SBH - e outra dos anos 2000 - História: uma abordagem integrada -, no intuito de comparar diacronicamente ambas as coleções. Portanto, o contexto estudado não me permite responder com correção as suas duas perguntas, visto que os livros que estudei foram publicados muito antes de 2018 e não me fornecem dados sobre o contexto presente.
No entanto, a partir da nossa trajetória em sala de aula, levando em conta as experiências diárias, é possível observar que as marcas da conjuntura atual têm impactado sensivelmente o trabalho docente. Seja na forma de cerceamento da própria autonomia de ensinar e aprender, seja na forma de fragmentação e diluição de conhecimentos estruturantes da área de ciências humanas, sobretudo com o advento da nova BNCC. Isso, no transcurso do tempo, deverá produzir efeitos na formação político-social e cultural dos alunos e alunas, para os quais será necessária uma nova reestruturação na estrutura educacional (a reforma da reforma).
Atte.,
Fábio A. da Silva
Prezado Fábio, é de profunda relevância análises como essas que apresentou. Conforme explicitou, a consciência histórica do indivíduo antecede sua presença no espaço escolar e o livro didático representa seu objeto de estudo. Considerando os tempos atuais e os cortes feitos nas apostilas de muitas instituições de ensino, como você avalia essa perda de espaços ou a tentativa de cerceamento em muitos materiais, de temas sensíveis como a Ditadura? Outra pergunta: você pretende cruzar os dados já levantados com apostilas e livros didáticos pós 2018 e analisar a presença destes temas sensíveis, seja quantitativamente seja qualitativamente? Parabéns pelos apontamentos.
ResponderExcluirLucilia Maria Esteves Santiso Dieguez
Cara Lucília, agradeço pelo interesse. Seus apontamentos foram bastante salutares. Em relação à primeira pergunta, lembro que o contexto estudado (aqui e na minha tese) remonta a um período mais recuado no tempo. Por esta razão, eu não teria condições de responder com rigor científico se as políticas atuais, somadas aos consecutivos cortes de verbas para a Educação, surtiram efeito, em termos de perda de reflexão e cerceamento de temas, nos manuais didáticos de História publicados no pós-2018. Logo, qualquer comentário a esse respeito seria meramente especulativo. Todavia, sinto diariamente em sala de aula que de 2016 para cá existe uma "patrulha" ideológica sobre as nossas ações docentes, seja a partir de alunos (que podem, inclusive, gravar a aula), da coordenação pedagógica ou de pais de alunos. Portanto, se a conjuntura política atual se mantiver por mais tempo, certamente esse panorama deverá se refletir também nos livros didáticos.
ExcluirQuanto à segunda pergunta, respondo que não pretendo, neste momento, deter-me aos LDHs publicados a partir de 2018, visto que a minha pesquisa de doutorado já está na fase final de escrita e o recorte temporal inscreve-se no período compreendido entre 1970 e 2010. Mas, obviamente, o contexto atual requer novas pesquisas para verificar tanto as questões levantadas por você em relação aos temas sensíveis como também outras nuances que emergiram recentemente. Mais adiante, quem sabe, poderemos lançar mão de tal recorte, dada a sua relevância para a história do tempo presente.
Agradeço novamente por sua participação, Lucília, e espero ter respondido adequadamente as suas perguntas. Sinta-se à vontade para propor novos questionamentos e/ou comentários.
Um abraço!
Fábio Alexandre da Silva
Olá, Fábio!
ExcluirPerfeitas reflexões a respeito. Assim como você, percebo dia -a - dia as interferências na docência, no que diz respeito a determinados assuntos, principalmente a Ditadura. Como bem disse, elas surgem desde a coordenação pedagógica até alunos e pais, e vou além: até mesmo de alguns colegas de disciplinas diferentes. Mas que sejamos resistência sempre e ela vem através de nossas atividades e estudos como os seus. Mais uma vez parabéns!
Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez
Olá prezado, Fábio Alexandre
ResponderExcluirParabéns pela pesquisa. Muito interessante a metodologia diacrônica usada no trabalho. Seria interessante ampliar essa discussão para um contexto mais atual, tendo vista as produções didáticas recentes e o próprio cenário do Brasil na atualidade. Sobre a pesquisa em si, gostaria de saber se você você fez essa análise com outros livros, além dos citados?
Olá, caro colega! Agradeço pelo interesse na temática em estudo e questionamento endereçado ao meu texto.
ExcluirNeste texto, propriamente, utilizamos, como se observa, somente os dois livros em tela. Na minha tese de doutorado, porém, são utilizadas dez publicações, totalizando cinco autores diferentes, em um recorte circunscrito entre 1970 e 2017. O cenário estritamente atual ainda não está contemplado nas minhas pesquisas, mas, como você bem ressalta, esse contexto possui relevância ímpar e certamente será objeto de muitas pesquisas futuras. Por certo, em breve lançaremos mão de tal período.
Obs.: recomendo que você assine com o seu nome logo após as perguntas/comentários, pois só assim a comissão organizadora do evento terá condições de computar a sua participação e gerar a certificação.
Um abraço!
Fábio A. da Silva
Prezado, inicialmente minhas felicitações pela pesquisa. Mediante a leitura do texto, fiquei com algumas dúvidas. A primeira, de caráter conceitual, você utiliza o termo ditadura civil-militar, mas ao longo do texto há apenas atribuição aos militares sobre a ditadura em tela, qual terminologia sobre o período é usado pelos autores no livro didático de 2003? Nesse LDH existe debate ou provocações aos discentes para qual termo deve-se ser usado para caracterizar esses 20 anos?
ResponderExcluirQuanto a publicação de 1972, a opção pelo tema economia, não foi uma maneira de driblar a censura para conseguir a publicação e circulação da obra ou os autores apenas reforçaram a ideologia do Brasil Potência?
Atenciosamente,
Vinicius Rodrigues Dias
Caro Vinicius, agradeço imensamente pelo interesse e contribuições acerca do meu trabalho. Suas colocações são, sem dúvida, muito pertinentes.
ExcluirRespondendo à primeira pergunta, informo que a opção pelo termo "ditadura civil-militar" tem como base um vultoso debate historiográfico que parte do entendimento de que os setores civis (grande mídia, empresariado, ala conservadora da Igreja Católica) não apenas apoiaram a destituição de Jango, em março/abril de 1964, como também permaneceram apoiando política e economicamente o regime ditatorial instaurado nas duas décadas que se seguiram ao golpe. Nos livros estudados no texto em tela, não há referência ao caráter civil da ditadura brasileira, mas nas obras didáticas mais recentes que estudo na minha tese (particularmente as de 2015/2017) já ocorre o uso do termo civil-militar. Para ser mais objetivo, assinalo que o livro de 1972 basicamente nem menciona o termo ditadura e o de 2003 usa tanto ditadura quanto regime para abordar o período de 1964 a 1985.
Partindo para a sua segunda indagação - que é excelente, por sinal -, parece haver as duas premissas na obra de S. B. de Holanda (discuto essa questão na minha tese). Por um lado, constata-se que o tratamento mais "ameno" em relação à ditadura é, com efeito, uma tentativa de driblar a censura vigente (isso é até mesmo afirmado por uma das autoras da coleção - cito uma ou duas falas dela na minha tese). Por outro lado, não se pode desconsiderar que na historiografia didática do autor existe uma série de aspectos que, direta ou indiretamente, dialogam com o ideário desenvolvimentista dos militares, reafirmando, em vários momentos, a perspectiva de "Brasil Potência", seja a partir da ênfase dada aos índices de crescimentos logrados no período do "milagre econômico" ou mesmo destacando sobremaneira as chamadas obras faraônicas feitas na ditadura - que ocupam boa parte do capítulo estudado.
Espero ter elucidado os seus questionamentos.
Um abraço!
Fábio A. da Silva
Olá Fábio! Você acha que um maior aprofundamento e importância dos conteúdos didáticos sobre as ditaduras em nossos vizinhos decorre de um maior questionamento /julgamento desses períodos e seus crimes em seus países? E se a anistia aqui no Brasil silenciou qualquer debate ou justiça? Podemos comparativamente ver isso nos livros didáticos? Abcs!
ResponderExcluirProf. Crema, agradeço bastante pela leitura e contribuição.
ExcluirQuanto ao primeiro questionamento, eu não saberia dizer se há, com efeito, esse maior aprofundamento nos conteúdos sobre as ditaduras nos países vizinhos do Brasil porque nunca tive acesso a outros livros didáticos além dos brasileiros. Creio que uma pesquisa nesse sentido seria muito relevante para deslindar essa inquietação.
Em relação ao segundo ponto, a Lei da Anistia, ao que parece, contribuiu para um processo não apenas de silenciamento mas também de esquecimento (ou não fomento à memória) sobre a da ditadura civil-militar no Brasil - há, hoje, uma série de estudos que fundamentam tal perspectiva. Certamente um estudo comparativo entre as formas de representação das ditaduras latino-americanas em livros didáticos de História seria de enorme valia para esclarecer essa questão.
Espero ter contribuído, de alguma forma, para o debate proposto.
Abraço!
Fábio A. da Silva
Muito Obrigado Fábio! Grande Abraço!
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