Marcos Vinícius dos Santos Costa e Max Lanio Martins Pina

 REFLEXÕES SOBRE O LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: UM PRODUTO MERCADOLÓGICO OU UMA FERRAMENTA PEDAGÓGICA?

 

Marcos Vinícius dos Santos Costa

Max Lanio Martins Pina

 

Ao discorrermos sobre o livro didático de História, temos que entender a princípio como ele é constituído e quais são os processos escolhidos e adotados para sua produção. Devemos compreender ainda, se existe um livro didático ideal para ensinar e aprender História ou se ele é apenas uma utopia, que pode se aproximar ou se distanciar da realidade histórica vivenciada pelos estudantes na vida prática. Cabe também nessa reflexão falarmos do crescimento de pesquisas instrumentalizadas, que direcionaram seu foco para o mesmo, adotando-o como objeto investigativo central. Podemos notar que nas últimas décadas, houve um intenso interesse de pesquisadores em expor, analisar e investigar o livro didático, trazendo-o para o debate, caracterizando-o como um documento e como fonte valiosa para a área do ensino de História no Brasil.

 

Para a pesquisadora Circe Bittencourt o livro didático se transformou em um destacado objeto de investigação, uma vez que:

 

“O crescimento de pesquisas sobre o livro didático de História acentuou-se na última década, considerando-se dois aspectos. Um deles está associado à atuação de grupos organizados em projetos financiados, como o caso do projeto livre com participações de várias instituições. [...]. Um outro aspecto a ser considerado quanto ao crescimento da pesquisa pode ser explicado pela disseminação de cursos de pós-graduação em várias instituições do País, incluindo as particulares, percebe-se que, em tais instituições, o LDH torna-se objeto de estudos sob diversas perspectivas e abordagens.” (BITTENCOURT, 2011, p. 498).

 

Nesse caso, quando refletimos sobre a produção de um livro didático, necessitamos considerar todos os detalhes nele contido, por um processo de observação minucioso e com cuidado para não incorrermos em juízos de valor, já que se trata de um material/ferramenta constituída de complexidades. Por isso, nos afirma Miranda e Luca, em um artigo publicado na Revista Brasileira de História no ano de 2004, em que realizam uma reflexão a partir de um balanço do PNLD.

 

“O livro didático é um produto cultural dotado de alto grau de complexidade e que não deve ser tomado unicamente em função do que contém sob o ponto de vista normativo, uma vez que não só sua produção vincula-se a múltiplas possibilidades de didatização do saber histórico, como também sua utilização pode ensejar práticas de leituras muito diversas.” (MIRANDA; LUCA, 2004, p.124).

 

No Brasil a preocupação do governo federal em criar uma comissão para efetivamente trabalhar na organização e produção, bem como na compra desse material é algo recente. Podemos notar, que a grande preocupação com o livro didático não está relacionada somente com a sua metodologia ou sua ideologia, mas com a sua capacidade de comercialização (mercado editorial tem investido muito pesado nesse material nos últimos anos).

 

O livro didático tornou-se uma mercadoria, que às vezes o descaracteriza como um dos mais importantes materiais disponíveis nas escolas públicas do país, para a efetivação do ensino e da aprendizagem histórica, dado que seu sentido principal tem sido alterado. Compreendemos que o mesmo deveria ser uma “ferramenta” para o estabelecimento do processo educacional, e não apenas um produto comercial, visando lucro financeiro para os autores e para as editoras.

 

Outro fator importante nesse processo está ligado às grandes editoras, que agressivamente e com muita habilidade comercial e logística nas vendas, conseguem influenciar na escolha definitiva de qual livro didático o governo deve comprar, mesmo que essa escolha passe pelo crivo dos professores da escola básica. Sabemos que esse mercado é muito lucrativo, portanto, são muitos interesses econômicos por trás da escolha de um livro didático pela escola, independentemente de onde se localiza no país.

 

Para Miranda e Luca (2004), o livro didático também se configura como uma mercadoria:

 

“Cumpre destacar que para o segmento voltado para as compras do setor público importa menos a orientação metodológica ou a ideologia contida em uma coleção didática e mais a sua capacidade de vendagem e aceitação no mercado. Nesse contexto o livro didático assume claramente sua dimensão de mercadoria, sujeita a múltiplas interferências em seu processo de produção e vantagem.” (MIRANDA; LUCA, 2004, p 128).

 

Os livros didáticos de História possuem importância para a formação educacional das crianças, dos jovens e dos adultos em situação escolar, são suportes e instrumentos, que, quando utilizados adequadamente conseguem impulsionar pedagógica e positivamente a formação crítica dos indivíduos e sujeitos que dele utilizam no processo da aprendizagem histórica.

 

No livro didático é possível encontrar traços do tempo, ideologias, visões políticas, aspectos culturais e também históricos, tantos outros assuntos e temas que se vinculam à nossa vida cotidiana no presente, e que às vezes nos passam despercebidos. Por isso, é importante escolher um livro didático de qualidade, em que sua produção passou por critérios refinados e diversos de avaliação, e, se possível, que contenha importantes referenciais bibliográficos, assim como uma diversidade de fontes históricas (multiperspectividade).

 

Nesse sentido, as pesquisadoras Miranda e Luca (2004) citando Choppin (2000), vão afirmar que o livro didático não é somente uma ferramenta pedagógica, mas é também um suporte de seleções culturais variáveis, onde estão presentes pontos de vistas históricos a serem transmitidas e apresentados para as gerações mais jovens. Esse material também se caracteriza, conforme as autoras como meio de comunicação, cuja eficácia repousa na importância de suas formas de difusão, isto é, na maneira como essa ferramenta pedagógica é utilizada em sala de aula pelo/a professor/a de História. A aula é dialógica, portanto, o livro didático deve ser dialogado nas aulas de História, deve ser questionado, interpretado, analisado e refletido pelos participantes (professores/estudantes) do processo comunicativo do ensino.

 

Ao refletirmos sobre o livro didático, devemos observar também sua materialidade para entender sua constituição material e concreta. Contudo, compreender a materialidade do livro não é apenas averiguar seu tamanho e sua espessura, o cheiro da tinta no papel impresso, mas é conhecer o processo de sua produção, isto é, analisar todas as etapas do seu desenvolvimento antes de se tornar um material encadernado e distribuído nas escolas brasileiras.

 

O pesquisador Kazumi Munakata, faz uma descrição desse processo detalhadamente: 

 

“O livro é papel e tinta formado a mancha (a área impressa de páginas); o que é ali se imprime passa por edição e copidesque (que muitas vezes introduzem alterações no texto original) revisão e preparação de texto, que, então, é organizado em páginas (paginação), de acordo com um projeto editorial; as páginas formam cadernos de certo formato, que são colocados ou costurados e encadernados, recebendo procedimentos de acabamentos editorial e gráfico; para. Finalmente ser distribuído, e (eventualmente) lido. [...]. Aprender a materialidade é, antes, conhecer o processo de produção, circulação e consumo de livros, no interior do qual seus elementos, por exemplo, o tamanho da página, adquire inteligibilidade.” (MUNAKATA, 2012. p. 184).

 

Outro ponto que merece nossa atenção é a dificuldade encontrada, para que a cada começo de ano sejam entregues em todas as escolas do país os livros impressos, que possam acrescentar na formação intelectual dos estudantes. Sabemos que para isso ocorrer, o processo logístico é grandioso, dados os esforços para que nenhuma escola no território nacional fique prejudicada sem ter acesso a esse material. Todavia, a cada ano, o governo brasileiro consegue realizar essa distribuição, contudo, nos últimos anos a quantidade desse material tem diminuído nas escolas públicas do país, e o motivo é a política austera adotada pelo governo brasileiro, através do Ministério da Educação (MEC) que diminui os recursos destinados a essa área da educação brasileira (G1, 2019).

 

Quando pensamos o livro didático apenas como uma ferramenta capitalista de produção, corremos o risco de inferiorizá-lo reduzindo sua condição, até mesmo porque, no seu interior existem análises e descrições das lutas de classes que ocorreram ao longo da História, existem várias narrativas sobre os processos históricos de transformação da humanidade. Sendo assim, compreendemos que o livro didático é um produto, logo, é uma mercadoria específica destinada a um público alvo, que nesse caso é a Escola e seus estudantes.

 

Mais uma vez, dialogamos com o pesquisador Munakata (2012), para corroborar com essa visão comercial do livro didático:

 

“Na sociedade atual, capitalista, todo esse processo desemboca num produto, que é a mercadoria. Não se pode abstrair do livro – e do livro didático – a determinação de que ele é, antes de tudo, produzido para o mercado. [...]. Afinal, um livro que conclama a derrubada do capitalismo é tão mercadoria quanto o que o exalta. [...] o livro didático, então, é uma mercadoria destinada a um mercado específico; a escola.” (MUNAKATA, 2012. p. 184-185).

 

Devemos compreender a escola como um espaço e uma temporalidade destinada à formação e a reflexão do saber, o livro didático como mercadoria específica da escola garante a mesma e seus estudantes, um desenvolvimento capaz de abranger todas as áreas do conhecimento seja elas intelectuais, sociais, patrimoniais, históricas, econômicas, etc.

 

O livro didático na instituição escolar tem algumas finalidades e funções importantes. Munakata (2012) citando Choppin (2004), apresenta essas funções assumidas pelo manual didática na escola da seguinte forma: primeiro, é um referencial onde contém o programa da disciplina ou sua interpretação; segundo, é instrumental que apresenta uma metodologia de ensino através de atividades e exercícios específicos; terceiro, é um material ideológico  e cultural que compartilha a língua e os valores da sociedade do presente; em último lugar, é também documental (documento histórico), pois permite a interpretação e o desenvolvimento do olhar crítico e históricos dos estudantes.

 

Até pouco tempo se pensava e praticava um ensino didático de História, onde a base era uma aula decorativa e cansativa, onde os estudantes tinham como obrigação a decoração (retenção) de conteúdos formais/normativos e não a aprendizagem crítica dos mesmos. Não se estimulava nos jovens estudantes a capacidade intelectual (cognição situada na História). Após as transformações ocorrida no ensino de História nos últimos decênios, temos uma atenção especial na forma como os alunos pensam historicamente, ou melhor, temos buscado compreender como crianças, adolescente e jovens conseguem interpretar o passado histórico, com o auxílio dos instrumentos didáticos e pedagógicos a sua disposição, nesse caso, o livro didático.

 

Para o pesquisador canadense Christian Laville, o foco do ensino agora está voltado para a autonomia do sujeito:

 

“O ensino de história, assim como sua disciplina, segue em constante transformação [...]. No cotidiano, essas mudanças implicam práticas diferentes das usuais. Se antes a meta era seguir à risca uma orientação curricular e transmitir conhecimento histórico de relevância, agora busca-se ‘formar indivíduos autônomos e críticos e levá-los a desenvolver as capacidades intelectuais e afetivas adequadas, fazendo com que trabalhem com conteúdos históricos abertos e variados’.” (LAVILLE, 1999, p. 137).

 

Com isso, ressaltamos novamente a importância do livro didático na formação das crianças, dos jovens e dos adultos em situação escolar, dado que é por meio desse instrumento didático e pedagógico que se desperta para o pensamento cognitivo crítico, pois, é constituído por uma base sólida de informações, as quais instigam os professores e os estudantes.

 

Cabe realizarmos a indagação, existe um livro didático de História que seja ideal? Freitas e Oliveira (2014), responde essa questão afirmando que o livro didático ideal, está nas mentes de cada profissional de História. Nesse caso, os autores não definem o que seria essa idealização, deixando a responsabilidade para os professores de História, que utilizam esse material cotidianamente no chão da sala de aula. Porém, se pensarmos que exista de fato, um livro didático ideal, estaremos colocando vários outros como não ideal, sabendo que a visão dessa idealização desemboca na ideia que tal material facilitaria a aprendizagem histórica dos estudantes.

 

O historiador e filósofo Jörn Rüsen salienta que os historiadores precisam se preocupar com o livro didático por três motivos. Primeiro por este ser “um dos canais mais importantes para levar os resultados da investigação histórica até a cultura histórica de sua sociedade” (RÜSEN, 2011, p. 110). Diante disto, o historiador deve tomar cuidado e insistir para ver os resultados de suas investigações serem incorporados “sem grande demora aos livros didáticos” (RÜSEN, 2011, p. 110). O segundo motivo está localizado na função que o conhecimento histórico presente no livro didático deve-se ocupar, a orientação culturalmente da vida prática na sociedade. Em terceiro e último, os historiadores precisam se preocupar com o livro didático pelo simples motivo de que alguns dos autores desse material estão envolvidos com questões políticas do tempo presente, “o ensino de história é uma das instâncias mais importantes para formação política” do ser humano (RÜSEN, 2011, p. 110).

 

Para o historiador e filósofo alemão citado, um livro didática ideal necessita possuir várias características, as quais podemos resumir da seguinte forma: a) Ensino prático: formato claro, estrutura didática, relação com o aluno e relação com a aula; b) Percepção histórica: apresentação de materiais históricos, imagens, mapa e esboços, textos, pluralidade da experiência histórica e pluriperspecitivade; c)  Interpretação histórica: normas científicas, capacidades metodológicas, caráter de processo da história, pluriperspectividade ao nível do observador e força de convicção da exposição; d) Orientação histórica: perspectivas globais, formas de um juízo histórico e referências ao presente (RÜSEN, 2011). Todos esses elementos combinados, constituem as características fundamentais, para que o material didático utilizado no ensino e na aprendizagem histórica, alcance um modelo tipológico ideal.

 

Devemos também considerar a existência de uma importante relação entre docentes, discentes e o livro didático, que representa o processo dialógico do ensino e da aprendizagem escolar. É notório que nas últimas décadas, o livro didático se transformou em objeto de estudos e investigações como já afirmamos. Para os pesquisadores Salis, Salis e Costa (2018), vários estudos buscam desvendar o papel cultural e escolar, bem como analisar a relação estabelecida entre esse material e os sujeitos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

 

Temos que ponderar o fato que o livro didático de História nos auxilia na construção e no do desenvolvimento de conscientização histórica, política, econômica, religiosa e social da nossa história. Pelo menos, é por meio dele que essas questões são dialogadas no chão da sala de aula cotidianamente em nosso país. Podemos observar que nos últimos anos o ensino de História busca uma saída para o ensino tradicional, que estava fundamenta na decoração de datas, personalidades e conteúdos formais. Essa área tem avançada, buscado um ensino crítico e investigativo, que possibilite a formação do pensamento histórico (mobilização da consciência histórica), respeitando as suas particularidades e os contextos sociais onde é aplicado.

 

Os autores Salis, Salis e Costa (2018) pontuam sobre a visão positiva que existia no Brasil nas décadas posteriores ao período do regime civil-militar, sobre esse material afirmando que:

 

“Do mesmo modo, havia o entendimento de que o Livro Didático seria um elemento fundamental e estratégico, a fim de auxiliar nas mudanças que o período democrático exigia, rumo a efetivação de uma formação preocupada com a conscientização crítica, reflexiva e cidadã.”  (SALIS; SALIS; COSTA, 2018, p.39).  

 

Para os investigadores, esse instrumento era visto positivamente como um elemento capaz de auxiliar a nação brasileira rumo a sua redemocratização. Contudo, podemos afirmar que nem sempre foi assim, pois muito antes da criação do PNLD, os livros didáticos possuíam vários problemas de ordem conceitual e até mesmo gráfica. Porém, desde que o PNLD passou a se responsabilizar pela qualificação desse material, seu estado ideal ficou cada vez mais próximo, claro, se as políticas governamentais não continuarem retrocedendo e adotando posições anticientíficas e ideologizantes.

 

Sobre a qualidade do livro didático de História, os pesquisadores, Rocha, Reznik e Magalhães (2017) apontam o seguinte:

 

“Quanto à qualidade do livro didático de história, [...] pode-se visualizar um esforço crescente de minimização de erros conceituais, anacronismos, simplificações explicativas, entre outras fragilidades dessa natureza que permeavam os livros antes da avaliação sistemática. Constata-se também a supressão de situações de estereótipos e preconceitos, além de avanços na atualização de conteúdos e aperfeiçoamentos na produção gráfica e visual dos livros.” (ROCHA, REZNIK, MAGALHÃES. 2017. p. 41).

 

Essas mudanças no livro didático de História, realizadas pelas políticas governamentais, causando uma transformação na sua estrutura interna, se transformou em algo atraente, e, quem sabe, encantador para os estudantes e professores. Entendemos que as diversas linguagens contidas no mesmo, desperta nos sujeitos envolvidos no processo dialógico de construção do pensamento histórico, novas  possibilidades de letramento histórico (aprendizagem histórica), ou melhor, de visão de mundo e de interpretação da vida passada e presente, dado que as cores, imagens, boxes, quadros, tabelas, gráficos, textos e fragmentos de documentos contidos nessa ferramenta, possuem a função de capturar a atenção dos sujeitos envolvidos nesse contexto escolar de ensino e aprendizagem.

 

Nesse sentido, os autores Sales, Salis e Costa (2018), afirmam que:

 

“Não se pode ignorar que as diferentes linguagens sempre estiveram presentes nos materiais didáticos disponíveis no mercado, o que mudou nas últimas décadas, com relação a elas foi a percepção acerca de sua utilidade no processo de ensino, bem como os objetivos e consequências de sua apropriação por parte dos sujeitos envolvidos no cotidiano da sala de aula.” (SALIS; SALIS; COSTA, 2018, p.42-43).

           

Além de ser um instrumento a ser explorada adequadamente pelos professores na aula de História, o livro didático não deveria ser a única fonte a fazer parte desse processo. Os pesquisadores Salis, Salis e Costa (2018), compreendem que a sala de aula é um lugar de produção de conhecimento e, igualmente, os docentes da educação básica, principalmente os professores de história, necessitam relacionar o manual didático com outras fontes documentais e históricas a sua disposição.

 

Com isso, vale ressaltarmos mais uma vez a relevância do/a professor/a no processo do ensino e da aprendizagem histórica, tendo o livro didático como uma ferramenta indispensável para que os estudantes possam desenvolver o pensamento histórico (interpretação do passado). Pensar historicamente não é apenas saber conteúdos históricos normativos, é ir além das paredes da sala de aula. O pensamento histórico nos coloca diante dos desafios temporais que temos que enfrentar na vida prática, também nos coloca diante da realidade e perspectiva que temos de/no presente-futuro, isto é, a capacidade mental de entrelaçar o passado como fundamento de estruturas sociais, políticas, religiosas, ideológicas do tempo atual (RÜSEN, 2011).

 

O pesquisador Tel Amiel afirma que:

 

“Atualmente, especialistas concordam que, para ensinar história de maneira crítica e aberta a interpretações, são necessários professores capazes de ir além da transmissão de conhecimentos, aliando pesquisa e docência com maestria, bem como uma visão sagaz e atenta aos questionários éticos da sociedade contemporânea.” (AMIEL, 2014, p. 190).

 

Na atualidade, a instrumentalização do livro didático de História, proporciona o entendimento de que o professor não é mais o detentor pleno do conhecimento, mas é um mediador que orienta ou provoca o protagonismo dos seus alunos quanto ao desenvolvimento do pensamento histórico (mobilização da consciência histórica).

 

Vários especialistas concordam que o livro didático é uma ferramenta importante no ensino e na aprendizagem histórica. Por isso, este recebe uma ampla atenção inclusive por parte daqueles que se interessam pelo ensino de História na escola e pelo seu significado para a cultura política (RÜSEN. 2011).

 

Sendo assim, os autores Salis, Salis e Costa (2018), questionam as aulas que naturalizam todas as informações contidas no livro didático, sem questioná-las, sem provocar o pensamento e posicionamento crítico dos educandos, pois os professores de História não devem ser somente transmissores de informações, mas auxiliadores na construção de uma mentalidade que compreende a multiperspectividade da História:

 

“Ao se deparar com aulas de História, que apenas reproduzem as narrativas presentes nos livros didáticos ou que apresentam as imagens como comprovação do conteúdo trabalhado, deve-se questionar como se deu a formação desse professor e as suas condições de trabalho, pois se sabe que a atividade docente envolve vários elementos. Entretanto, as práticas pedagógicas também edificam uma naturalização no aluno sobre os processos de ensino, no caso do material didático, constrói uma certa dependência que o impede de ampliar suas leituras sobre o que significa uma narrativa histórica.” (SALIS; SALIS; COSTA, 201, 48-49).

 

O livro didático de História como uma ferramenta deve ser utilizado de forma problematizada, devemos questionar sua produção, sua composição, suas ideologias, suas perspectivas. Nesse sentido, nossa reflexão iniciou estabelecendo uma visão desse material como um produto comercial, disputado pelas grandes editoras do país devido aos lucros volumosos que ele proporciona quando comprados pelo governo federal.

 

Por outra via, entendemos também que o livro didático é uma ferramenta, um instrumento que auxilia milhares de professores de História cotidianamente com a formação do pensamento histórico na vida de seus alunos. Quiçá, algumas das escolas públicas brasileiras contam apenas com esse material nesse processo de ensino e aprendizagem.

 

Outro ponto que levantamos, assimilou a possibilidade de existir um livro didático de História que seja ideal. Sabemos que as tipologias existem como elementos para que o real possa alcançá-las, porém isso nem sempre é possível.  No caso do livro didático, acreditamos que os avanços do PNLD nacional, tem colocado esse material na esteira dessa idealização.

 

Por fim, compreendemos que cabe aos professores de História realizarem o melhor uso desse produto/ferramenta em suas aulas. Cada elemento posto no livro didático, como os textos, as imagens, os quadros, as tabelas e os fragmentos de fontes históricas, não foram escolhidos por acaso. Portanto, os docentes devem problematizar todos esses elementos, apontá-los, discorre-los, questioná-los para que os estudantes compreendam que o pensamento histórico (consciência histórica) é multiperspectivada.

 

Referências biográficas

 

Marcos Vinícius dos Santos Costa, graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás e professor na Secretaria de Educação do Estado do Tocantins.

 

Max Lanio Martins Pina, doutorando em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Goiás, mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, membro do AprendHis – Grupo de Pesquisa e Estudo em Aprendizagem Histórica e docente da Universidade Estadual de Goiás.

 

Referências bibliográficas

 

AMIEL, Tel. Recursos Educacionais Abertos: uma análise a partir do livro didático de história. Revista História Hoje, v. 3, n. 5, p. 189-205, 2014.

 

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Produção didática de História: trajetórias de pesquisas. Revista de história, n. 164, p. 487-516, 2011.

 

G1. MEC bloqueia R$ 348,4 milhões para compra, produção e distribuição de livros didáticos. 7/08/2019. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/08/07/mec-bloqueia-r-3484-milhoes-para-producao-compra-e-distribuicao-de-livros-e-materiais-didaticos.ghtml.

Acesso em: 09 mar. 2022.

 

OLIVEIRA, Itamar Freitas; DE OLIVEIRA, Margarida Maria Dias. Cultura histórica e livro didático ideal: algumas contribuições de categorias rüsenianas para um ensino de História à brasileira. Revista Espaço Pedagógico, v. 21, n. 2, 2014.

 

LAVILLE, Christian. A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de História. Revista Brasileira de História, v. 19, p. 125-138, 1999.

 

MIRANDA, Sonia Regina; LUCA, Tania Regina de. O livro didático de história hoje: um panorama a partir do PNLD. Revista Brasileira de História, v. 24, p. 123-144, 2004.

 

ROCHA, Helenice Aparecida Bastos; REZNIK, Luis; MAGALHÃES, Marcelo de Souza. Livros didáticos de história: entre políticas e narrativas. Editora FGV, 2017.

 

RÜSEN, Jörn. O ensino de história. (Orgs.) Maria Auxiliadora Schmidt, Isabel Barca e Estevão de Rezende Martins. Curitiba: Editora da UFPR, 2011.

 

MUNAKATA, Kazumi. O livro didático: alguns temas de pesquisa. Revista Brasileira de História da Educação, v. 12, n. 3, p. 179-197, 2012.

 

SALIS, André Ulysses; SALIS, Carmem Lucia; COSTA, Maria Paula. A apropriação do livro didático de história na perspectiva dos alunos. Revista outras fronteiras, Vol. 5, n. 2. Cuiabá, 2018.

36 comentários:

  1. Olá, Parabéns pelo trabalho.
    Sou professor a mais de 20 anos, em quase todos os meus anos em sala de aula, noto o livro como uma muleta para muitos professores, aqueles que seguem a sua sequência e as aulas não são nada aquem do livro, por isso uma muleta, na nossa área de humanas professores acabam trabalhando com outras disciplinas como Geografia, muitas vezes nem sabem o que dar como aula, assim o livro vira uma manual. Muitos não o utilizam por discordar dos seus textos, mas acho que se soubermos utilizar o mesmo com calma e revisão, todos podem ser utilizados.
    E não vai existir nunca um livro completo e perfeito não é?
    Abraço
    Anderson da Silva Schmitt

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    1. Caro, Anderson! Obrigado pelo seu comentário, sua leitura é muito importante para nós. Concordamos com você, é impossível a existência de um livro didático que não possua problemas. Não há como construir um material que atenda todas a nuances de um ensino e aprendizagem histórica ideal. Compreendemos sua visão sobre o fato de alguns utilizarem somente o livro didático. Bom seria se todos os professores diversificassem o ensino e a aprendizagem com outros materiais/instrumentos/fontes para além do livro didático.

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  2. Caros Marcos Vinícius e Max Pina, quero parabenizá-los pela pelas reflexões dirigidas ao estudo do livro didático de História, esse objeto tão complexo, controverso e relevante para o processo de ensino e aprendizagem da disciplina. Na leitura do texto de vocês, identifiquei alguns aspectos que, na condição de professor e pesquisador da área, fizeram-me repensar algumas convicções e práticas. Neste sentido, as questões que vou apontar aqui são parte de um processo de reflexão surgido a partir das nuances debatidas por vocês e que me possibilitaram refletir acerca das múltiplas facetas de um livro didático. Portanto, sintam-se à vontade para argumentar e contrapor-se a esses apontamentos. A ideia é gerar um debate mesmo.

    No início do artigo, vocês afirmam que o livro didático de História (LDH) deve ser “questionado, interpretado, analisado e refletido pelos participantes (professores/estudantes) do processo comunicativo do ensino”. Essa questão requer muita reflexão, haja vista que vivemos, hoje, numa era de verdades subjetivas, a chamada “pós-verdade”, em que conhecimentos historicamente consolidados tem sido postos em xeque por sujeitos que se valem, muitas vezes, de um vídeo de caráter sensacionalista recebido via WhatsApp, feito por alguém, em muitos casos, sem a menor formação acadêmica. Por isso, penso que cabem algumas aspas no entorno dessa afirmação. Outro ponto que me parece caro é quando vocês apontam que “Até pouco tempo se pensava e praticava um ensino didático de História, onde a base era uma aula decorativa e cansativa, onde os estudantes tinham como obrigação a decoração (retenção) de conteúdos formais/normativos e não a aprendizagem crítica dos mesmos”. Segundo afirmam, nesse período “Não se estimulava nos jovens estudantes a capacidade intelectual (cognição situada na História)” e “Após as transformações ocorrida[s] no ensino de História nos últimos decênios, temos uma atenção especial na forma como os alunos pensam historicamente”, cujo “foco do ensino agora está voltado para a autonomia do sujeito”. Será que podemos afirmar que rompemos, com efeito, com esse ensino de caráter tradicional/positivista e que, hoje, o foco não é mais a memorização de fatos e datas? Até que ponto temos, na atualidade, essa aprendizagem crítica dos acontecimentos históricos? Na concepção de vocês, não há permanências, na escola atual, de uma educação alicerçada aos moldes positivistas?

    Por fim, vocês advertem que “antes da criação do PNLD, os livros didáticos possuíam vários problemas de ordem conceitual e até mesmo gráfica. Porém, desde que o PNLD passou a se responsabilizar pela qualificação desse material, seu estado ideal ficou cada vez mais próximo [de uma efetivação]”. Mais uma vez, creio que precisamos de cuidado neste ponto. É preciso lembrar que o PNLD foi criado no apagar das luzes da ditadura, em 1985, e desde a sua criação tem contribuído, como bem lembra Munakata (1995), para um crescimento exponencial do segmento editorial de didáticos. Portanto, que diferenças, em termos de ganho de qualidade, vocês enxergam nos livros didáticos publicados via PNLD, se comparados com os livros produzidos antes da criação do programa? Será que houve tanta diferença assim, a ponto de entendermos que os LDHs de hoje estão próximos do estágio ideal apontado por J. Rüsen (2010)?

    Agradeço novamente a oportunidade de debater esse tema tão relevante para a historiografia escolar.

    Abraços!
    Fábio Alexandre da Silva

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    1. Caro, Fábio Alexandre! Estamos muito gratos por sua leitura atenciosa e por seus comentários. As questões que você levantou são importantíssimas, pois quando escrevemos, partimos sempre do nosso ponto de vista. Concordamos com você que na era das desconstruções em que vivemos (pós-verdade, fake News, etc), inclusive da própria ciência, não é qualquer pessoa que pode questionar/avaliar/indicar um determinado livro didático (principalmente nos editais do PNLD. Pesquisadores desse material deveriam serem os responsáveis por essa avaliação). No entanto, acreditamos que um professor ou professora de História, seja no mínimo capaz de se posicionar diante do material que utiliza nas suas aulas. Pensamos que esse profissional poderia/deveria realizar tal atividade com seus alunos. Quanto ao ensino positivista, temos que reconhecer que ainda persiste na atualidade na maior parte do país, mas também, é possível percebermos que em alguns locais onde os professores se reconhecem como pesquisadores da sua própria prática, como o grupo da Educação Histórica (Paraná e Bahia) e da Didática da História (Goiás), essa realidade tem sido transformada e a educação positivista sendo abandonada. Em relação ao PNLD e sua responsabilidade sobre o livro didática, acreditamos que tivemos ganhos, porque uma das maiores conquistas desse material, não está apenas na qualidade da impressão e das cores, mas na adoção de várias linguagens para o estabelecimento do ensino e da aprendizagem histórica. Mais uma vez, temos que rever nossa perspectiva e afirmar que o livro didática de História brasileiro, não consegue ser o livro didático ideal pensado por Jörn Rüsen. Mas bem que poderia seguir os parâmetros do historiador e filósofo alemão. Gratos!   

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    2. Prezados colegas, agradeço novamente pela possibilidade de debate e reflexão acerca de um tema tão valioso para a aprendizagem histórica escolar. Obrigado pelo empenho e continuemos a nos debruçar sobre esse rico objeto de ensino e pesquisa.

      Abraços!
      Fábio A. da Silva

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  3. Prezados autores, gostaria de saber se realizarão uma pesquisa de campo acerca das reflexões apresentadas: haverá visitas em escolas e, através de uma conversa com docentes, explicitar as impressões dos mesmos sobre o viés mercadológico, muitas vezes presentes nos livros didáticos? Abraços. Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez

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    1. Caríssima, Lucília!
      Obrigado por sua leitura e atenção com o nosso texto. A princípio, estávamos pensando apenas em realizar um exercício de reflexão sobre esse assunto, não pretendíamos fazer a pesquisa empírica. Mas anotamos sua sugestão, porque precisamos saber o que os profissionais que trabalham com o livro didático pensam sobre ele, qual é a visão desse material (ferramenta pedagógica ou produto mercadológico). A questão que você levanta, nos coloca diante de uma excelente ideia para ampliação essa discussão.
      Valeu, demais!

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    2. Que maravilha! Penso ser sempre relevante estender uma pesquisa assim como a de vocês, evidenciou dados relacionados ao tempo presente. . Grande abraço. Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez

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  4. Olá, Marcos e Max! Parabéns pela excelente explanação! Destaco que quando os livros passam pelo clivo dos professores, normalmente, já há uma escolha definida, e aquela situação não passa de encenação para parecer democrática, mas o livro escolhido, na maioria das vezes, já está definido, mesmo antes desse clivo.

    Gostei muito da escrita. Abraço e sucesso.

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    1. Olá, Cláudia! Obrigado pela sua leitura e pelo seu comentário. Gostaríamos que isso que você afirma, não fosse verdadeiro. Mas, infelizmente, o processo é passível de sofrer esse tipo de situação. Uma pena, porque isso faz com que alguns dos nossos colegas, não todos, não levem a sério essa escolha. Quem sabem, se a maioria de nós nos posicionássemos, fizemos os apontamentos dos porquês de nossas escolhas e recusas de certos materiais, talvez assim, seríamos considerados. Claro, o processo é mais complexo!

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  5. Caro, Marcos e Max! Parabéns pelo texto, ele foi esclarecedor. O que motivou vocês a escreveram sobre essa temática?
    Cristina Maria Pereira Martins Pina

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    1. Prezada, Cristina Pina! Obrigado pela leitura e por sua questão. Acreditamos que o livro didático ainda é uma ferramenta/instrumento importante no ensino e na aprendizagem histórica. Isso nos coloca diante de outra questão, o fato de muitos professores possuírem apenas essa material como recurso para suas aulas. Nesse sentido, queríamos pensar sobre essa ambiguidade que é o livro didático, pois, enquanto ele é uma ferramenta pedagógica, também é um produto mercadológico. Esse tema é polêmico, e acreditamos que necessita de mais pesquisas e reflexões.

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  6. Prezados autores! Gostei muito do texto. Tendo em vista que o livro didático é importante, por que o Estado tem dificuldades no investimento de mais recursos na distribuição desse material?
    Maria de Jesus Rodrigues.

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    1. Caríssima, Maria de Jesus! Obrigado por seu interesse em nosso texto. As questões sobre os recursos federais para distribuição do livro didática não foi encarada por nós. Não nos detivemos nessa questão durante as leituras para a produção do texto. Por isso, qualquer comentário nosso sobre essa questão seria apenas especulação. Mas, pesamos que essa questão necessita ser debatida e discutida pela sociedade.

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  7. Parabéns o texto foi muito esclarecedor , e de suma importância a valorização dos livros e a escolha deles.

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    1. Obrigado! Seu interesse pelo nosso texto é importante para nós.
      Sugerimos que você coloque seu nome completo na caixinha abaixo desse comentário, só assim os organizadores podereão perceber sua participação. Abraços!

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  8. Prezados, Marcos Vinícius e Max Pina, quero parabeniza-los pelo o artigo que do qual nos leva a grandes reflexões do uso do livro de didático e suas implicações tanto política, econômica e ideológica. Tais apontamentos levantam questões relevantes sobre as relações de interesses que sempre estarão presentes mesmo que intrínsecas e camufladas. cabem aos professores (as), mesmo com suas limitações transpor esses desafios de modo crítico e reflexivo.
    Romildo Flosino de Souza

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    1. Olá, Romildo! Estamos gratos pelo seu interesse em nosso texto. Muitos são os desafios do ensino e da aprendizagem histórica, o livro didático é apenas um elemento complexo e polêmico dessa situação. Acreditamos que uma boa formação, permite aos professores a utilização mais adequado dessa ferramenta. Valeu pelo seu comentário, ele é importante para nós. Abraços!

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  9. Max e Marcos, o texto de vocês é muito elucidativo e didático. Estou pesquisando os livros didáticos de história, focando a história do Brasil Império, e observei muitas das considerações que vocês levantaram. Por ser um objeto complexo e tão necessário no chão da escola, é difícil fazer uma crítica ao material didático. Ainda assim, acredito que não podemos fugir desse desafio. As indicações de ter o livro didático como uma ferramenta para construir o conhecimento histórico e escolar, mas cruzando com outras fontes e metodologias são instigantes, embora não seja menos custoso. Nesse sentido, cabe também deixar explícito que para que nossos colegas estimulem a cognição histórica, também precisam de formação continuada de qualidade, piso salarial digno e boas estruturas para trabalhar nas escolas. Parabéns pelas reflexões!

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    1. Olá, Raíssa Cirino! Obrigado por sua leitura e comentário. Muito interessante sua pesquisa, parece que você tem abordado o livro didático como uma fonte, como documento que também é uma construção histórica. O olhar do/a historiador/a para esse material e de suma importância para o tempo atual. Engraçado, não exploramos esse lado do livro didático no texto. Assim que você tiver publicado seus resultados, compartilha conosco. Concordamos com você sobre a formação continuada, sobre a aplicação de um piso salarial que dê dignidade aos professores/as e com a necessidade de termos escolas públicas bem estruturadas. talvez essas questões sejam as maiores fragilidades do ensino e da aprendizagem histórica na atualidade no Brasil.

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  10. Não existe planejamento de aula sem conteúdo de pelo menos um livro didático. No presente artigo se aborda entre outros que o melhor livro é aquele que se tem em mãos. Mas seria possível idealizar, diante das constantes mudanças históricas e que são refutadas ao longo dos anos? qual seria o melhor material didático a ser empregado no ensino de história para os anos inciais?

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    1. Olá, Ivone Cortina! Estamos gratos pelo seu interesse em nosso texto e também por suas indagações. Muito interessante sua primeira pergunta sobre a possibilidade de idealizarmos diante das mudanças. Acreditamos que sim, pois pensamos que todos os professores de História devem ter em mente o tipo de ensino e aprendizagem que desejamos alcançar, isso só é possível por meio de uma projeção (futura) idealizada, que cada um estabelece para si, a partir das condições e instrumentos de trabalho que possui. A utopia é uma forma de nos mantermos na direção (idealizada) daquilo que visamos realizar como profissionais da educação. Sobre os materiais didáticos para a aprendizagem histórica nas fases iniciais, pensamos que o livro didática precisa ser dialogado com a vida prática das crianças, para que elas consigam perceber o sentido da História em suas vidas. Estamos partindo da premissa que o livro didático, quando bem utilizado, consegue cumprir o propósito da aprendizagem histórica, todavia, essa aprendizagem necessita fazer sentido para os estudantes. Talvez, uma associação do livro didático com outras fontes históricas, possam auxiliar melhor esse processo.

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  11. Carmem Lúcia Gomes De Salis14 de setembro de 2022 às 16:34

    Gostaria de parabenizá-los pelo texto. Sem dúvida, os livros didáticos sofreram mudanças significativas em virtude dos critérios mais rígidos de produção e avaliação estruturados no âmbito do PNLD, que entre outros elementos buscavam atender questões relacionadas ao debate acerca do ensino de história e ao campo da história, além, é claro, das políticas públicas educacionais e curriculares. No entanto, novas mudanças foram colocadas para a produção do material a partir da BNCC e do Novo Ensino Médio. Como vocês percebem o material didático organizado por área? Qual o impacto para o ensino de história a partir do uso desse material?

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    1. Prezada, Carmem! Obrigado por sua leitura e interação. Confesso que ainda não tenho condições de me posicionar em relação ao novo livro didático por área (humanidades). Sei que as mudanças propostas pela BNCC e o Novo Ensino Médio já tem causado muitas transformações nesse material. Não consigo ver positivamente essa diluição das ciências humanos, principalmente da disciplina de História. Só o tempo e as pesquisas nos mostrarão o impacto que essa situação vai ocasionar no ensina e na aprendizagem histórica.

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  12. Bom dia, queridos autores. Texto magnifico.
    O livro didático é um instrumento essencial no processo de ensino-aprendizagem e poder detectar que muitos desses livros são feitos para despertar o senso crítico dos alunos, de maneira inovadora, diferente, rica de conteúdos e propostas é muito animador, pois a História “desafia” a abrir o horizonte às múltiplas interpretações e o livro didático é um “ aliado” importante nesse processo. Um professor motivado, naturalmente, motiva seus alunos e cria “um ambiente saudável”, rico de troca de experiências. A esse ponto questiono: Quais iniciativas, enquanto professores de História, podemos tomar para nos tornarmos “verdadeiros” facilitadores de conhecimento e não apenas “meros reprodutores” desse conhecimento?

    Bartolomeu Lima Sá Júnior

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    1. Caro, Bartolomeu! Obrigado por sua palavras gentis, sua leitura e questionamento são preciosos para nós. Concordamos com você, um professor ou professora motivados conseguem motivar seus alunos. Quanto ao fato de fugirmos da mera reprodução do conhecimento, acreditamos que primeiro precisamos levar nossos alunos a compreensão que a História faz parte da vida, não é apenas um mero componente curricular e obrigatório do ensino. A História é um componente cognitivo para interpretação da vida prática no tempo. Para existirmos, temos que interpretar o tempo (RÜSEN, 2001). É importante partirmos da vida prática dos estudantes, para conseguiremos dar sentindo aos conteúdos, que na maioria das vezes não fazem sentido nenhum a eles. Quando os professores analisam o livro didático para seus alunos, demonstrando que ele é apenas mais uma das múltiplas formas de se interpretar o passado, já é um bom começo no processo que coloca os estudantes como protagonistas de sua formação. Abraços!

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  13. Olá, Iramaia! Obrigado por sua leitura e por seus comentários. Sobre a distinção entre o material didática utilizado no ensino público e no privado, não temos nenhuma análise mais consistente. Cremos que esse tema requer uma apreciação melhor pelos pesquisadores/as. Particularmente, não acreditamos que haja tanta distinção entre ambos e continuamos nossa justificativa, que um material não é bom ou ruim, mas é aquilo que fazemos com ele que vai determinar sua qualidade. Talvez a estrutura do ensino privado tenha mais investimentos que o público, isso faz muito diferença na aplicação do ensino.

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  14. Mauren Gabriele Bitencourt Ventura15 de setembro de 2022 às 16:17

    Parabéns pelo trabalho!
    Poderia citar exemplos de como utilizar nas aulas de história o livro didático aliado a outras ferramentas?
    Mauren Gabriele Bitencourt Ventura

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    1. Olá, Mauren! Obrigado pela sua interação conosco. A questão que você levanta, nos parece que é um dos dilemas que professores e professoras enfrentam no cotidiano da sala de aula. Sei que no nosso texto, parece uma defesa somente ao livro didático, mas acreditamos que outras fontes, outras ferramentas podem ser associadas a esse material. Para não arriscar ficar aqui citando exemplos dos quais nunca trabalhei, sugiro a leitura do texto de autoria da professora Lucilia Maria Esteves Santiso Dieguez, que tem como título: ENTRE JOGOS DE MEMÓRIA E DE ROLETAS: “GIRANDO” A APRENDIZAGEM HISTÓRICA NOS NONOS ANOS. Nele, a autora narra uma experiência em que trabalhou com jogos que os estudantes confeccionaram sobre o conteúdo do livro didático. O mais interessante foi o fato que esses estudantes se tornaram protagonistas no processo da aprendizagem histórica. Abraços!

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  15. Olá Autores! Nos livros didáticos, salvo melhor juízo o currículo da pouco espaço para conteúdos locais e regionais, até mesmo em função do PNLD! Como podemos remediar esse problema? Abcs!

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    1. Caro, professor Everton C. Crema! É uma alegria recebermos uma questão de sua pessoa. Concordamos com você quando afirma que o livro didático, devido ao currículo formal e as questões do PNLD, não possui espaço para a História regional e local. Nesse caso, contamos com a boa "subversão" dos professores de História. Aquele momento que necessitamos fugir ao currículo para trabalhar em sala de aula ou em outros espaços, como, museus e centros históricos, um pouco de História local. História essa que, talvez, seja a única que faça sentido para os estudantes, mas que, infelizmente, não é contemplada no material didático. Somos defensores do livro didática, mas compreendemos haver momentos onde necessitamos caminhar por outras vias, afinal, a História é multiperspectivada e suas fontes também. Obrigado por interagir conosco. Abraços!

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    2. Obrigado ! Grande Abraço!

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